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Quando eu era puto, as conversas de liceu com amigos e conhecidos que se diziam comunistas passavam quase sempre pela fase do:
" - Mas se tu gostas tanto de países comunistas porque é que não vais morar para lá? Se calhar na União Soviética ou na RDA eras mais feliz do que aqui..."
Eu não gostava de recorrer a esse argumento tipo bomba atómica porque matava a discussão e eu nunca gostei de soluções fáceis. E se o argumento tinha o condão de acabar com quase todas as disputas, era simplista e intelectualmente pouco honesto; desde logo porque as pessoas têm (à partida) o direito de querer tentar mudar o seu País em vez de emigrarem para os países que têm modelos de organização de que gostam mais.
Mas agora apetece-me voltar a esse espírito por causa desta polémica inventada a propósito da suspensão dos “contratos de associação” entre o Ministério da Educação e menos de 3% das escolas de ensino privado e particular, e que parece cada vez mais ser apenas uma disputa de cariz religioso.
Faz sentido que numa cidade como Coimbra, com escolas públicas com vagas disponíveis, e num País de escassos recursos, o Estado esteja a financiar escolas privadas que assumem como Visão Educativa: Tenhamos somente em vista a glória de Deus e a salvação do mundo.?
Vocês me dirão...
Mas reformulando a dúvida clássica das discussões anticomunistas do liceu, fica a pergunta:
"- Prezados conservadores da nossa praça, se gostam tanto de países onde o estado financia escolas religiosas, porque é que não vão viver para o Paquistão ou para a Arábia Saudita?
Com as vossas mulheres e as vossas filhas?"
Não?
Pois, bem me parecia...
Nada me move, evidentemente, contra o ensino de cariz religioso; todos temos o direito de inscrever os nossos filhos nas escolas que quisermos, consoante as limitações financeiras de cada um.
O único critério que o Estado tem que assegurar é que TODAS as crianças sem exceção têm acesso a uma escola.
Nos locais onde não existe escola pública, o Estado subsidia uma escola privada para garantir que todas as crianças têm acesso à escolaridade obrigatória.
Mas nos sítios onde existe uma escola pública disponível, quem quiser optar por um colégio privado, paga-o.
Ao Estado compete assegurar serviços e não preferências.
Mais simples que isto é impossível.
(nota: a propósito deste tema tenho gostado de ler as crónicas deste perigoso agente soviético)