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A notícia causou alguma surpresa e polémica: a Fórmula 1 decidiu que em 2018 deixarão de existir as “pit-babes” ou “grid girls” ou o que lhes quiserem chamar – são aquelas miúdas giras e com pouca roupa que animavam as grelhas de partida de cada Grande Prémio.
A razão de ser desta “surpresa” e da consequente “polémica” assenta em dois pressupostos: algumas pessoas não acompanham a Fórmula 1 e não sabem que tem uma nova administração/gestão, enquanto outras pessoas não se deram conta de que os tempos estão a mudar – a junção destes dois factores deu origem a reações indignadas que se compreendem à luz deste duplo desconhecimento.
Vamos por partes.
Parte 1.
A Fórmula 1 já não é propriedade de um octogenário que a geria de forma autocrática, ao sabor das suas birras, do seu ego e da sua desmesurada ambição (Bernie Ecclestone). Agora foi comprada por um grupo americano (Liberty Media) que quer tornar este desporto (ainda) mais universal e atrativo para novas gerações e novos mercados.
Quem segue com mais atenção a Fórmula 1 sabe que 2017 foi um ano de absoluta revolução interna no que diz respeito à promoção e ao marketing da modalidade. A medida de acabar com o “espetáculo” das pit-babes não só não surpreende como até seria, de alguma forma, espectável.
Aliás, as pessoas que seguem o automobilismo já sabiam que a FIA tinha acabado há 2 anos com as grid girls no WEC (World Endurance Championship) que é o mais importante campeonato de resistência do mundo e inclui a mais e conhecida prova automobilística do mundo: as 24h de Le Mans.
Concorde-se ou não, é preciso andar um bocadinho distraído para, 2 anos depois, ficar muito surpreendido com o alargamento da mesma medida à Fórmula 1.
Não é a minha opinião, são os factos.
Parte 2.
As Grid Girls são, eram, um resquício de um tempo que já passou.
E nem sequer estou a pensar nos conceitos de machismo, objetificação feminina e seus derivados. Nem é necessário recorrer a argumentos de ordem moral que, já se sabe, são sempre subjetivos.
Basta olhar para o calendário, constatar que estamos em 2018 e perceber que os hábitos de consumo se alteraram radicalmente.
Há umas décadas atrás era o homem quem trabalhava, ganhava o sustento da família e naturalmente decidia o que se consumia. O homem é que comprava o carro, escolhia os lubrificantes, decidia se bebia cerveja ou whisky e qual a sua marca preferida de aperitivo, o homem é que fumava e comprava tabaco, etc.
É apenas natural que o marketing fosse essencialmente dirigido a eles.
Mas por muita pinta que achemos ao Steve McQueen, ou por muita nostalgia que o bigode do Graham Hill ou as patilhas do Jackie Stewart nos causem, esse mundo acabou; pelo menos no ocidente.
As mulheres tornaram-se (muito) mais independentes, passaram a trabalhar, a ganhar dinheiro autonomamente e a decidir o que consomem.
Em princípio qualquer homem que tenha mãe, irmã, mulher, namorada, amigas, primas, conhecidas, colegas de trabalho, etc., e não viva na Arábia Saudita será testemunha deste facto e dessa alteração no paradigma do consumo.
As marcas sabem que em 2018 não basta escolher uma copa F e uma mini-saia de latex para vender um produto. E é por isso que as Pit-Babes acabaram – acabaram porque aquela época acabou e economicamente aquela estratégia de marketing deixou de fazer sentido para a comunicação de muitas marcas.
Com ou sem #metoo, as Pit-Babes estavam condenadas a desaparecer.
Mas há quem ache que o desaparecimento destas beldades das grelhas de partida é só mais uma cedência cobarde ao “politicamente correto” e mais uma vitória do feminismo radical.
A esses dá vontade de recuperar o “It’s the economy, stupid.” do Bill Clinton.
Neste caso seria “It’s the capitalism, stupid.”
É o capitalismo, pá.
As mulheres já não compram só detergentes e as marcas já não comunicam só com decotes, perceberam?
E se as Grid Girls desapareceram de Le Mans 2 anos antes do advento #metoo, se calhar não existe uma relação causa efeito entre os dois acontecimentos...
Mais uma vez, não é a minha opinião - são os factos.
Parte 3.
E agora vamos à minha opinião...
Eu gosto de ver mulheres bonitas, e nas grelhas de partida da Fórmula 1 a apresentação até primava pelo bom gosto. E era giro ver as diferenças regionais porque cada organização recrutava localmente as suas grid girls o que fazia com que o “espetáculo” fosse diferente no GP de Itália, do México ou do Japão.
Mas por muito bonitas que sejam e por muito bom gosto que tivesse a sua apresentação nas grelhas da Fórmula 1, nada diminui o facto de que naquela ocasião as mulheres estavam a ser utilizadas apenas como meros acessórios decorativos.
E eu não vibro com esse estatuto...
Eu sei que elas não são obrigadas a fazê-lo, muitas serão modelos profissionais e são pagas para isso, mas eu olho para esta foto e não é esta imagem do mundo que quero para os meus filhos.
É só isso. Ou como disse o Flávio Gomes (uma instituição do jornalismo motorizado no Brasil), “neste caso o 'politicamente correto', na verdade, é só o 'correto'”.
Parte 4
Querem uma Grid Girl a sério?
Eu dou-vos uma: chama-se Christina Nielsen, é gira que se farta e foi a campeã IMSA em 2016 e 2017!!!
Sim, ela é vistosa e passeia-se nas grelhas de partida.
Mas em vez de andar vestida de bibelot e a fazer de jarrão sexy, veste o fato de competição, põe o capacete e ganha corridas e campeonatos.
Ela é tão fixe mas tão fixe (mas tão fixe) que a Lego até vai lhe vai dedicar um set este ano.
Espero que muitas miúdas sigam o seu santo exemplo e ajudem a transformar o mundo num sítio com mais igualdade e menos preconceito.
Este ano ela partiu-me o coração e foi para a Porsche mas ainda assim...
GO CHRISTINA!!!