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Dois pontos prévios:
1 – Não sou eleitor do Bloco nem nutro nenhum tipo de simpatia pelo partido.
2 – A maioria das vezes em que o Bloco intervém eu discordo e até embirro.
Ultrapassados estes obstáculos iniciais, que não são pequenos e introduzem uma certa dose de preconceito da minha parte, vamos lá a ver esta história do vereador Robles e das suas mais-valias imobiliárias.
Nunca achei que para se defender algo ou alguém seja necessário pertencer a esse grupo.
Um rico pode (e deve) preocupar-se e defender ativamente os pobres da mesma forma que um homem pode (e deve) defender ativamente a igualdade de género e um português heterossexual e caucasiano pode (e deve) defender a igualdade de todas as minorias.
A ideia que um “tipo de esquerda” não deve ter dinheiro soa mais a inveja do que a princípio moral.
Posto isto, não me maça nada que um tipo de esquerda ganhe uns milhões num negocio legal; aliás chateia-me bastante mais que um deputado do Bloco dê uma morada falsa (a da sede do Bloco em Braga) para ganhar um subsídio de deslocação ao qual não devia ter direito (não só é desonesto como sou eu quem paga o subsídio).
O problema é que o Ricardo Robles não é de um partido de esquerda do género do PS, como aqueles tipos de esquerda cheios de dinheiro e bonacheirões da estirpe do Carlos Monjardino.
O Ricardo Robles é de um partido onde se defendem coisas como ”a propriedade é um roubo” e que andou os últimos anos a vociferar contra a especulação imobiliária e a saída dos Lisboetas do centro da cidade por não conseguirem acompanhar a subida de preços dos imóveis.
Isto de ser contra a propriedade privada e contra a especulação imobiliária mas depois ganhar milhões com imóveis e a sua especulação já é moralmente um bocadinho mais complicado.
Ainda assim noto-lhe uma certa transparência na ação que o torna refrescante no panorama político nacional.
Ricardo Robles quis ganhar dinheiro num negócio, juntou-se à irmã e fizeram uma sociedade às claras.
Não arranjou nenhum testa de ferro, não usou uma sobrinha como o Duarte Lima, não recorreu a um amigo banqueiro como Cavaco e as ações da SLN, não foi à procura de um sobrinho taxista na Suíça como Isaltino, não procurou favores de amigos construtores como Sócrates, não inventou off-shores como tantos outros... querem que continue a lista?
E quando o prédio for vendido acredito que vá pagar os devidos impostos sobre a mais valia.
Ricardo Robles é um falso moralista, um demagogo e muitos outros nomes que lhe queiram chamar.
A chatice é que no panorama político português, quando comparado com outros cromos de outros partidos, já ninguém estranha e ele quase que passa por sério.
Rebentou o escândalo a propósito da reconstrução de habitações destruídas nos incêndios de Pedrogão.
Mas pelo que ouvi nas notícias, estamos a falar de umas 7 casas num universo de mais de 260 habitações que estão a ser (ou já foram) reconstruídas.
Se devia ter acontecido? Claro que não!
Se deve ser investigado e os prevaricadores punidos? Claro que sim!
Mas valerá a pena empolar aqueles 2 ou 3% de eventuais irregularidades a ponto de perdermos de vista aquilo que foi a tragédia daquelas populações e o exemplo de generosidade da sociedade civil que se mobilizou para tentar minorar o seu drama?
Valerá a pena criar este sentimento de desconfiança generalizada em relação à utilização dos donativos?
Valerá a pena desvirtuar a realidade e falar em “donativos desviados” (li no Expresso) como se o dinheiro tivesse sido gasto em algo que não a reconstrução de casas?
Penso que não.
Ontem não se falava de outra coisa e acho que este clima de histeria pode ser altamente contraproducente para o espírito de generosidade de um povo e minar a confiança em iniciativas de generosidade que no futuro seja importante acarinhar.
Aliás, habituado que estou às derrapagens orçamentais em Portugal, até acho que 2 ou 3% de utilização de fundos em processos não-prioritários é um bom desempenho.
Até porque não há sistemas perfeitos; por muita cautela que se tenha estaremos sempre à mercê de alguns abusos e do aproveitamento da nossa boa fé por parte de pessoas com menos escrúpulos.
É verdade que estamos no patamar da náusea e do nojo quando alguém se aproveita desta situação para seu benefício.
Mas se querem que vos diga muito honestamente, aquelas pessoas que inventaram moradas para poderem beneficiar de subsídios aos quais não tinham direito para reconstruir as casas de Pedrogão podem sempre dizer que se inspiraram no exemplo moral dos deputados da nação.
Afinal de contas muitos deputados inventam moradas para ganharem subsídios e ajudas de custo às quais não têm direito, e até o Presidente da Assembleia da República (que é a 2ª figura do Estado Português) veio dizer que não faz mal e que está tudo bem assim porque basta a palavra dada pelos próprios deputados.
Queriam o quê?!?
Adiante...
Obrigado à comunicação social pela investigação e pela denúncia e obrigado ao Ministério Público por estar a investigar.
Mas agora, se não se importam, vamos passar ao assunto seguinte.
Sob pena de na próxima tragédia o povo português se mostrar desconfiado e pouco solidário pelo facto de temer que 2 ou 3% dos recursos poderem vir a ser utilizados em projetos que, sendo legítimos, não são exatamente os prioritários.
Esta coisa do “amor” é de facto muito engraçada porque, muitas vezes, assenta em coincidências.
Ando muito feliz com os boatos que apontam Cristiano Ronaldo à Juventus porque eu adoro a Juve.
Quando era miúdo tinha um amigo no liceu, o Alex, com quem ia a Alvalade regularmente – à parte de ser meu amigo, era o “meu” amigo de ir à bola.
O Alex era português mas tinha uma costela italiana; a mãe era italiana e, se não me engano, ele próprio tinha nascido em Perugia.
Para além de ser do Sporting tal como eu, ele também era fanático da Juventus – era o seu clube italiano.
E eu acabei por “adoptar” um carinho especial pelo clube do meu amigo. Ainda por cima naquela altura nós íamos sempre para a bancada da Juve Leo pelo que a fonética do nome Juve já me estava no coração.
Se há clube estrangeiro de que sempre gostei (à parte do Celtic de Glasgow) é a Juventus de Turim.
É por isso que me enternece tanto a ideia de o Cristiano Ronaldo, o “meu” menino de oiro, ir jogar para a Juve.
Mas há outra razão, mais racional, que me leva a redobrar o entusiasmo por esta transferência: é porque acho que em termos de gestão da carreira, o melhor para o futuro do Cristiano Ronaldo pode ser ir jogar para Itália.
O Ronaldo está numa forma tremenda, fez um ano formidável no Real Madrid e apresentou-se no mundial na condição que vimos. Mas quem tem 33 anos tem que gerir a carreira de forma diferente de um “miúdo” de 25.
E há qualquer coisa que a Itália tem e que os outros países não têm: a capacidade de aproveitar e maximizar a essência e as características dos jogadores até (muito) mais tarde.
A Liga Italiana é das mais competitivas do mundo e os clubes italianos têm dos melhores desempenhos nas competições europeias, mas apresentam sempre uma média de idades mais elevada do que as restantes Ligas.
Há qualquer coisa, ao nível da metodologia do treino ou do esquema de jogo, que faz com que os jogadores consigam permanecer ao mais alto nível durante mais tempo em Itália do que nos outros países.
Dino Zoff foi campeão do mundo aos 41 anos e Buffon continua a jogar depois dos 40, o que é notável, mas são guarda-redes.
Mas mesmo sem termos que recuar muito no tempo, facilmente nos lembramos de jogadores de campo que se retiraram depois dos 37 quando ainda estavam em grande forma: Baresi, Canavarro, Roberto Baggio ou Pirlo jogaram ao mais alto nível até essa idade. E até o nosso Figo, quando abandonou precisamente o Real Madrid e o campeonato espanhol, rumou para o italiano Inter de Milão onde jogou também até aos 37 tendo-se sagrado tetra campeão italiano.
E só por aí quase nem valia a pena fazer a referencia a Maldini (vénia) que se reformou no Milan aos 41 anos.
Não estamos a falar de um país simpático para um jogador se reformar tranquilamente; estamos a falar de um dos campeonatos mais competitivos do mundo mas onde se habituaram a fazer render os jogadores até mais tarde.
Estando o Ronaldo descontente com a postura do Real Madrid, e pensando nos seus 33 anos, a Itália pode ser o sítio ideal para ir.
E se vai para Itália, que maravilha vai ser vê-lo num clube mítico como a Vecchia Signora.
P.S. Fala-se numa transferência de 100 milhões de euros e o acordo ainda nem sequer foi assinado, mas as acções da Juventus já valorizaram 140 milhões de euros nestes últimos dias.
Cristiano Ronaldo é de longe o jogador mais popular do mundo e só em camisolas CR7 a Juventus vai amealhar uma fortuna - é sempre um excelente negócio.
Até eu queria comprar uma t-shirt da Juve mas este ano quero comprar a nova camisola do Sporting e não tenho dinheiro para tudo...
Três notas prévias:
1 - Eu gosto genuinamente da Madonna;
2 – Como alfacinha acho bestial que ela tenha escolhido a minha cidade para viver;
3 - Percebo perfeitamente que a Câmara Municipal a trate de forma especial (nós não somos todos iguais e ela é um verdadeiro “activo” para a cidade - um post dela nas redes sociais tem mais impacto na imagem de Lisboa no exterior do que alguns milhões gastos em “campanhas institucionais” para promover a cidade).
Como é evidente, quem é milionário e tem 15 carros só tem que arranjar uma casa com 15 lugares de garagem – é simples. Mas tanto quanto sei, os lugares de estacionamento foram cedidos a título provisório só enquanto duram as obras lá em casa.
Por mim está tudo bem e tanto se me dá que lhe cobrem 720€ (ela nem deve saber o que são 720€) como não lhe cobrem nada (o que para efeitos de orçamento camarário vai dar ao mesmo).
O que é escabroso nesta história é que estamos a falar de um bairro de Lisboa que, em matéria de estacionamento para os moradores, foi arrasado pela própria Câmara que agora “oferece” estacionamento à dona Madonna.
A CML mandou a EMEL invadir a zona da Estrela com o intuito de obter receita à custa dos moradores a quem foram objetivamente retirados os lugares de estacionamento na via pública.
A EMEL chegou disfarçada de “regulador” mas cedo se percebeu que não vinha regular nem investir nem organizar; só lá estava para pintar o chão de algumas zonas e suprimir outras sem outro motivo visível que não seja o de extorquir dinheiro com multas a curto prazo.
Há ruas onde se estacionava dos 2 lados sem problemas e que agora só têm estacionamento de um lado, há ruas onde se estacionava de um lado em toda a extensão da rua e agora só se pode fazer em meia-rua, há de tudo.
O problema é que a EMEL não se limita a multar e bloquear os carros que não pagam parquímetro ou que não têm o dístico de morador – também multam e bloqueiam os carros que estão estacionados em sítios não marcados, onde não incomodam ninguém e onde se estacionava tranquilamente antes dos raides da EMEL.
Nunca percebi o ódio da CML aos moradores da Estrela.
Será porque elegeram uma freguesia PSD e agora Fernando Medina decidiu puni-los como faz com os habitantes de Carnide por terem votado CDU?
Em resumo, a única coisa que me incomoda no “negócio” com a Madonna é o contexto: não me chateia que a Câmara facilite o estacionamento à frota da Madonna; o que não faz sentido é que no mesmo bairro se empenhe a perseguir as famílias que não têm dinheiro para comprar um palacete com 15 lugares de garagem.
Se calhar é a isto que se chama esquerda caviar...