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Quando o Paulo Portas ainda era “apenas” o Diretor do Independente, o meu tio Jorge que é comunista (acontece nas melhores famílias) dizia-me a brincar que o achava potencialmente perigoso. E justificava-se: para o meu tio Jorge o Paulo Portas era um homem muito inteligente, e para ele não havia nada mais “perigoso” do que um tipo que fosse simultaneamente de direita e muito inteligente.
E eu, que simpatizava com aquele Paulo Portas, retive esse misto de admiração e respeito que é saudável ter-se por aqueles que consideramos nossos adversários.
Essa recordação veio-me agora à memória a propósito do novo partido de André Ventura.
Não por causa de algum ponto em comum entre este Ventura e aquele Portas (que não existe) mas, pelo contrário, porque de André Ventura não se pode dizer que seja um homem “muito inteligente”.
O partido chama-se "Chega", e o nome é demasiado mau para ser verdade. "Chega" apresenta uma ideia de rutura, mas não mostra nenhum caminho alternativo; não soa bem, não tem dinâmica de vitória, não tem boa onda ou uma conotação com algo de positivo por que valha a pena lutar.
O nome "Chega" é, objetivamente, uma desgraça. “Chega” é apenas uma interjeição desesperada de quem está farto e não sabe o que há de fazer, como alguém que se esqueceu do guarda-chuva e apanhou uma molha, e ainda passou um carro a abrir e o deixou ensopado. Nesse sentido o partido também se poderia chamar "Parem Lá Com Isso", "Ai Que Chatice", ou "Poças Que Já Estou Irritado".
Também se podia chamar “Porra”, “Merda”, ou num partido mais extremista “Foda-se”.
Aliás, se eu tivesse que fazer campanha acho que preferia andar pela rua a apelar “vota Foda-se” do que a dizer “vota Chega”.
Na noite das eleições os jornalistas vão dizer que os votos do Chega não chegam para eleger um deputado? Ou pelo contrário vão dar a notícia de que o Chega chega ao parlamento?
Será que o André Ventura ainda não percebeu que em vez de um partido fundou uma anedota?
Adiante... deixemos o nome e vamos ver as suas propostas.
O primeiro cartaz conhecido é este:
Temos a pergunta “andamos a sustentar quem não quer fazer nada?” dentro de um elemento gráfico em forma de seta que aponta para um tipo de braços cruzados, vestido de forma desleixada com roupa que parece da feira e com a barba mal aparada – o retrato do arquétipo do preguiçoso despesista.
Ora acontece que o retratado, apesar de parecer um cigano em dia de casamento, é o próprio André Ventura que encomendou o cartaz. O grande líder conseguiu mandar fazer um cartaz com a sua foto de braços cruzados e uma seta a apontar e a alegar que ele próprio é um parasita da sociedade.
Não sei se lhe gabe o sentido de autocrítica, se aplauda a coerência de continuar no patamar da anedota.
O segundo cartaz/proposta que deram à estampa é este:
Aqui temos a afirmação de que “100 deputados chegam e sobram” por oposição aos 230 deputados que tem atualmente o nosso Parlamento.
Ora acontece que quanto menor for o número de deputados, mais votos vão ser necessários para eleger um deputado tornando a eleição de representantes de novos partidos quase impossível.
Não é preciso ser-se muito inteligente para compreender isto: o meu Zé que tem 9 anos percebe que se reduzirmos o número de deputados para metade vai ser preciso o dobro dos votos para eleger cada deputado – ele anda no 4º ano e já resolve problemas deste calibre, quando o André Ventura nem “chega” a perceber o enunciado.
Nem vou discutir se a medida é boa ou má; a questão é que se esta medida do Chega fosse aprovada, os principais prejudicados seriam os partidos mais pequenos e em especial os novos partidos que seriam banidos de qualquer possibilidade de eleição futura.
E o André Ventura nem percebeu que está a propor uma ideia que faria do seu partido um nado-morto.
Enquanto cidadão e eleitor, confesso que já me vai faltando a paciência para os partidos do sistema e os seus rebanhos de deputados mais ou menos invisíveis, ou que só são notícia quando são apanhados nalguma trafulhice a falsear moradas ou registos de presença.
Portugal precisa de ruturas, de caras novas e de ideias novas, mas convinha que fossem corporizadas por pessoas com um QI de pelo menos dois dígitos.
Bem sei que é positivo que em Portugal uma pessoa como o André Ventura possa fundar um partido - é um sinal de que somos um país que oferece algumas oportunidades às pessoas com deficiência.
Ainda assim, para mais políticos com a honestidade intelectual e a inteligência do André Ventura eu diria, numa palavra, CHEGA!
Quando soube que ia ser pai fiz imensos planos fantásticos que ficaram pelo caminho. Um deles era aprender a fazer surf - a ideia era aprender, apaixonar-me pela modalidade e depois ser eu o impulsionador da prática do surf pelos meus filhos.
Aquela junção entre prática desportiva e contacto com a natureza parecia-me uma coisa muito “boa onda”, no sentido literal do termo.
Como sou gajo tratei logo de comprar uma prancha, claro; felizmente arranjei uma em 2ª mão o que pelo menos reduziu drasticamente o custo do “passo em falso”.
Entretanto descobri que em vez de um filho eram gémeos, depois vieram mais 2 filhos e entre faltas de tempo, desculpas e dificuldades várias, a prancha ficou orgulhosamente dentro do saco e encostada à parede durante... 13 anos.
Até que este verão decidi tentar ter umas aulas de surf.
E como costumamos ir para a praia do Malhão, perto de Milfontes, achei que era uma excelente ideia tentar ter algumas aulas com eles.
Como imaginarão a coisa complicou-se e de que maneira...
Andei à procura nuns sites e percebi que o preço normal de uma alua de surf ronda os 25€, o que a multiplicar por 5 dava uma pequena fortuna por aula. Admito que o problema não seja o preço (que até inclui o aluguer de todo o equipamento) mas sim o meu orçamento limitado – de qualquer forma o sonho era impossível.
Encontrei escolas que faziam um desconto num pacote de 5 aulas por pessoa mas isso dava um conjunto de 25 aulas; contactei algumas a indagar sobre a possibilidade de um “desconto de grupo”, parceria com a página de FB e o blog mas não estava a ser fácil – e eu não podia pagar mais 500 ou 600€ por umas aulas de surf (para além do custo “normal” das férias).
Por fim encontrei quem precisava: a 7ª Essência – Escola de Surf e Bodybord, uma escola da zona de Lisboa (operam na Ericeira, Carcavelos e Caparica) mas que em Agosto desce até Milfontes.
Apresentaram de longe a melhor proposta e como eu não queria fazer disto uma coisa episódica (e como a escola é da zona de Lisboa) já sei com quem é que falo quando tiver a oportunidade/disponibilidade de fazer mais umas aulas.
A experiência foi maravilhosa e os miúdos aderiram antes mesmo de começar; mal lhes disse que iriam ter aulas de surf os olhos brilharam logo.
Na praia conhecemos o João, o mentor da escola, e mais tarde o Duarte e o Diogo que foram uns instrutores insuperáveis no carinho e dedicação aos alunos (para além do Francisco que nos tirou umas fotos).
O João é um líder e o Duarte e o Diogo têm (muito) mais jeito com miúdos do que eu.
É claro que ao fim de 5 aulas ainda se está a começar mas, pelo menos, já começámos a começar.
E é também evidente que as fotos e os vídeos não fazem justiça ao entusiasmo que se sente dentro de água.
Sucede que no mar sofremos de um problema de perspetiva que distorce tudo.
Quando estamos deitados na prancha temos a altura do nosso corpo na horizontal, e como temos a cabeça quase ao nível da superfície da água qualquer elevação nos parece desafiante.
Resumindo, quando estamos deitados na prancha, quaisquer 40cm de onda (ou de espumaço) nos parece quase imponente.
Remamos, esforçamo-nos por apanhar o ritmo, vemos aquela onda maior do que nós a aproximar-se (sim, nesse momento nós estamos deitados e por isso só temos 30cm de “altura”), e quando sentimos o empurrão da onda fazemos o movimento que nos ensinaram para nos pormos de pé.
Mordemo-nos para chegar à vertical, ajustamos a posição dos pés, esbracejamos para manter o equilíbrio, e se conseguimos surfar durante uns metros a sensação de “prova superada” é maravilhosa.
O ego só volta ao normal mais tarde quando vemos a foto (tirada quando já estávamos de pé) e constatamos que afinal aquela onda que, quando deitados, parecia ser do nosso tamanho, era afinal uma espuma que nos dava abaixo do joelho. É quase caricato o esforço que se faz para dominar uma espuminha de poucos centímetros mas é mesmo assim que se começa.
Tudo isto para vos dizer que nos divertimos muito mais do que aquilo que as fotos podem deixar entender.
Um dos prazeres maiores que tive nem teve a ver com a minha evolução. Adorei fazer esta iniciação ao surf, mas melhor do que ter sido feliz foi ter visto o esforço e a alegria dos miúdos.
Os nossos filhos são sempre uma versão melhorada de nós e nestas idades absorvem tudo num instante e progridem muito mais depressa do que nós (ok, o facto de serem mais ágeis e com um centro de gravidade mais baixo também ajuda).
Mesmo quando eu falhava uma abordagem ou quando caía cedo de mais e ficava com pena por não ter aproveitado aquela onda, bastava-me olhar à volta e vê-los a desfrutarem as suas ondas para me sentir completamente realizado.
Vê-los a surfar as suas ondas até ao fim, chegarem à areia e regressarem a correr lá para dentro sem pensar em mais nada foi uma parte importante do prazer do “meu” surf.
Resumindo, há três coisas que vos posso sugerir:
1 – Experimentem porque é maravilhoso; é um desporto que recomendo para todas as idades e lá em casa, dos 7 aos 48, toda a gente adorou.
2 – Aproveitem o inverno para terem umas lições de iniciação (com os fatos não se sente frio e está muito menos gente na água) e assim quando chegar o verão vocês e os vossos filhos já poderão ter alguma autonomia.
3 – Se forem da zona de Lisboa, da Ericeira à Caparica, a 7ª Essência é o parceiro/amigo de que precisam.
É a polemicazinha do dia: o Presidente da República ligou em direto para o programa da Cristina Ferreira para lhe desejar sucesso nesta nova etapa da sua vida e logo apareceram os críticos a malhar no Presidente por ter “descido” ao submundo cor-de-rosa e/ou superficial dos programas da manhã.
Não me parece contudo que Marcelo Rebelo de Sousa seja um tipo de pessoa que faça (muitas) coisas por acaso...
Na semana passada assistimos ao espetáculo grotesco de ver Manuel Luís Goucha, um homossexual assumido, convidar o líder dos skinheads para lhe dar palco e tempo de antena no seu programa.
Um convite a Mário Machado seria sempre abjecto; mas ser alguém que faz parte de uma minoria a oferece a sua “casa” para promover um convidado condenado e cadastrado por violência extrema contra minorias é o patamar zero da dignidade humana.
O programa do Goucha causou a polémica que ele pretendia, as redes sociais incendiaram-se e até já circula uma carta aberta “exigindo” uma condenação por parte das mais altas figuras do Estado.
É aqui que entra o tacticismo soft-power do prof. Marcelo e na primeira oportunidade que teve tomou a sua posição enquanto cidadão - ligou à antiga colega do Goucha (e sua nova concorrente) para lhe desejar publicamente sorte neste seu novo projeto.
Acredito que o prof. Marcelo goste genuinamente da Cristina Ferreira (eu cá gosto!) mas se quisesse incentivar a sua amiga, qualquer telefonema ou sms noutra altura cumpririam esse propósito.
Se o fez de forma pública foi porque quis marcar, publicamente, uma posição.
Não meus amigos, não acho que o Presidente da República tenha descido ao planeta cor-de-rosa dos programas da manhã para se misturar com cantores pimba e especialistas em tarot - acho que o Presidente da República deu publicamente uma chapada (de luva branca) na insalubre descida ao esgoto da imoralidade e da violência em busca de audiências a qualquer preço protagonizado pelo Goucha.
O Presidente mostrou que, para ele, não vale tudo para se ter sucesso.
Esta "leitura" pode ser excesso de optimismo da minha parte mas ainda assim, pela minha parte, obrigado pelo seu gesto Sr. Presidente.