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No passado dia 30 de Março aconteceu algo de histórico: o primeiro Sporting-Benfica em futebol feminino.
Muita gente deu conta do acontecimento porque o jogo, sendo solidário e tendo como objectivo recolher fundos para ajudar Moçambique, teve direito a uma boa promoção e a transmissão televisiva.
O resultado desta operação de promoção resultou num record de assistência: mais de 15.000 pessoas para assistirem a um jogo de futebol feminino.
Lá de casa fomos todos os 6, o preço dos bilhetes permitia-o, e nas bancadas o ambiente foi fantástico com famílias inteiras a viverem lado a lado a sua paixão pelo seu clube, sem receios nem animosidades.
E se é evidente que no desporto a este nível todos querem ganhar, tratava-se de um jogo amigável que era também uma enorme festa para o futebol feminino: aquelas atletas nunca tinham jogado num estádio com as bancadas tão compostas, com um ambiente de derby a sério e com direito a “directo” na TVI – era uma oportunidade rara para todas elas.
Mas é preciso dizer que os Clubes não tiveram a mesma visão de generosidade e de grandeza, e é com enorme orgulho que sinto que o meu Sporting ganhou em todos os capítulos: o desportivo e o moral.
Ao intervalo o Sporting fez 3 substituições tendo trocado de guarda-redes e saído a melhor jogadora da 1ª parte (Ana Borges). A meio da 2ª parte o Sporting fez mais 4 substituições de uma assentada permitindo que todas as jogadoras do banco vivessem aquele dia tão especial para a modalidade à qual dedicam as suas vidas.
O Sporting tinha feito 7 substituições e o Benfica nenhuma (acabou depois por fazer uma substituição já depois do penalti e mais duas no minuto '90).
O Sporting quis fazer do jogo uma festa do futebol feminino e oferecer um dia especial às suas jogadoras enquanto o Benfica quis ganhar de qualquer maneira mesmo que isso significasse privar as suas atletas da experiência de pisar aquele palco.
Todos sabemos que quando se fazem muitas substituições a equipa arrisca-se a ficar menos coesa, mais desligada entre si, mas também por termos assumido correr esse risco (em benefício da festa e das nossas jogadoras) soube ainda melhor ganhar o jogo.
O Sporting foi generoso e ganhou, o Benfica foi egoista e perdeu.
Fiz questão de explicar esse “pequeno” detalhe aos meus filhos.
No fim do jogo as taças entregues a cada equipa tinham o mesmo tamanho e nem sequer foi anunciado um “vencedor”: o apresentador limitou-se a anunciar a entrega do troféu ao Benfica e depois ao Sporting sem referencias ao resultado final, e a fotografia para a posteridade tem as jogadoras misturadas num ambiente de são convívio.
Para resumir diria que foi uma tarde especialmente bonita porque os 3 grandes de Lisboa se uniram por uma causa solidária (o Belenenses ofereceu o estádio) o futebol feminino deu mais um passo rumo à sua afirmação como desporto de massas e os meus filhos puderam assistir a um Sporting-Benfica num ambiente de rivalidade saudável e amistosa.
E no fim o Sporting ganhou tanto no desporto como na ética.
Que grande lição para os meus filhos...