Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Chernobyl é uma série belíssima.
Porque é irrepreensível do ponto de vista artístico e porque apresenta pela primeira vez ao grande público uma sequência trágica de acontecimentos que estava envolta em mistério.
Chernobyl é aterrador não apenas pelo risco das reações dos átomos (indiferentes a regimes ou religiões), mas sobretudo pela mistura explosiva entre nuclear e totalitarismo.
Acontece que Chernobyl não é “apenas” uma série sobre um desastre nuclear; é também um extraordinário retrato sobre o que é o comunismo (ou socialismo soviético ou o que lhe quiserem chamar), e sobre o que é viver num sistema assente na arbitrariedade, na prepotência e no medo.
Acabei de ver a série a poucos dias do nosso 25 de Novembro e por essa razão apeteceu-me evocar os que, naquele dia, arriscaram as suas carreiras e as suas vidas para que Portugal não se transformasse numa república popular de inspiração soviética.
Mas se neste dia costumamos recordar o papel decisivo de militares como Ramalho Eanes ou Jaime Neves, é também importante lembrar que os militares estavam respaldados por uma sociedade civil e por partidos políticos que tinham a mesma visão plural do mundo e da democracia.
Sobretudo nesta altura em que o PS está tão enleado em geringonças para se manter no poder que esqueceu o seu papel pioneiro na história da democracia portuguesa, importa recordar o PS corajoso de ’75, o PS de Mário Soares e do povo a encher a Alameda.
Há relativamente pouco tempo o meu pai contou-me que ele próprio chegou a trazer listas de militantes do PS para casa porque o receio de que a sede no Largo do Rato fosse tomada de assalto era real - ao fim do dia repartiam as folhas com os dados dos militantes por algumas pessoas de confiança que as levavam para casa, e assim não corriam o risco de ter as listas todas concentradas no mesmo local – porque se Portugal virasse mais à esquerda, quem estivesse naquelas listas estava em perigo.
Em minha casa as listas eram colocadas a forrar o balde do lixo (algo que na altura se costumava fazer com jornais antigos) na esperança de que se a casa fosse invadida talvez não fossem procurar ali.
Nem sei porque é que o meu pai levou 40 anos para me contar este episódio que só me deixa orgulhoso porque ele também lutou, também arriscou e estava do lado certo da História.
Hoje, 25 de Novembro de 2019, obrigado a todos os que em Novembro de ’75 fizeram cumprir Abril de ’74.