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O meu amigo Zé Cavaco é do Benfica e gosta de futebol espetáculo.
Gosta de jogadores que arriscam, que fintam, que tentam sempre, daqueles que têm o toque de midas ou o golpe de génio que transforma o desporto em arte.
No longínquo ano de 2002, o Zé Cavaco andava doido com o Ricardo Quaresma que na altura tinha 19 ou 20 anos; naquele ano, o Quaresma era o jogador que lhe enchia as medidas, aquele que ele gostaria de ter no seu Benfica.
Chegou a confessar-me que até tinha inveja de nós, os lagartos, por termos um miúdo assim, daqueles que na tradição do Futre eram capazes de correr de uma baliza à outra tentando fintar metade da equipa adversária.
O que lhe interessava era a garra, a ingenuidade e a ousadia dos miúdos.
Um dia disse-me que gostava que o levasse a Alvalade – queria ver esse miúdo mágico em acção, a cores e ao vivo.
Eu acedi, arranjei um cartão para ele e lá fomos juntos à bola.
Pelo caminho expliquei-lhe:
Olha Zé, em Alvalade toda a gente adora o Quaresma; mas nós não vamos lá só para o ver. Nós agora temos um miúdo ainda mais novo que é uma absoluta maravilha.
Como só tem 17 anos, nem sempre é titular. Mas vais perceber que na 2ª parte vai começar a sentir-se um burburinho no campo e é o estádio a pedir ao treinador para meter o miúdo.
O meu amigo Zé não acreditou.
Não achou possível que o Sporting, para além do Quaresma que era o seu jogador preferido, ainda tivesse um miúdo mais novo e mais promissor.
Mas lá aconteceu o que sempre acontecia: a certa altura da 2ª parte toda a gente começou a pedir o miúdo, e o Cristiano Ronaldo lá entrou.
Não me lembro de qual era o jogo (porque eu ia a todos) nem qual o resultado; não me lembro sequer se o Ronaldo chegou a fazer alguma daquelas jogadas de encher o olho e levantar o estádio.
Lembro-me da alegria do estádio a pedir para o miúdo entrar e a alegria e entusiasmo com que ele jogava à bola - era magia.
Acho que o Zé Cavaco não percebeu na altura aquilo a que tinha assistido, mas talvez agora o compreenda.
O Cristiano Ronaldo cresceu e transformou-se naquilo que hoje todos conhecemos - o maior jogador Português de todos os tempos.
Já todos vimos jogadores espetaculares, basta ir à lista dos vencedores da Bola de Ouro para recordar os nomes daqueles que foram os melhores do seu tempo.
Parece-me contudo que o Cristiano Ronaldo está num patamar acima de todos eles. Não se trata de ser “apenas” aquele jogador extraordinário que carrega a equipa às costas – é aquele nível acima em que o futebol se transforma num híbrido ali entre o desporto colectivo e o desporto individual.
No “meu tempo”, quando penso no Ronaldo não penso no Platini ou no Rummenigge, no Van Basten ou no Ronaldo (brasileiro), não penso sequer no Messi.
Ronaldo não é apenas o melhor daquele ano, é dos melhores de sempre - o único jogador do “meu tempo” que me vem à cabeça quando penso no Ronaldo é o Maradona - para mim o mais extraordinário jogador de todos os tempos.
Muitos acharão que estou a exagerar e é natural.
Eu às vezes resvalo para a hipérbole - o amor tem destas coisas.
O Ronaldo está com 33 anos e ainda tem muito futuro para escrever, mas a sua garra e a sua genuína alegria a jogar à bola são as mesmas do miúdo de 17.
Ronaldo hoje lidera uma equipa, mas abraça e vibra com os seus colegas com o mesmo entusiasmo e gratidão de adolescente.
É também por isso que para mim será sempre “o meu menino de oiro”.
“Autismo”, de Valério Romão, é um livro extraordinário.
Sim, o título diz tudo – é um livro sobre o autismo.
E sim, o autor sabe bem do que fala porque é pai de uma criança autista.
Ainda assim, é um romance belíssimo.
E digo “ainda assim” porque é de facto um romance; não é um livro escrito ostensivamente na 1ª pessoa nem um mero relato da experiência pessoal nem muito menos um panfleto sobre a doença.
É um romance arrebatador e durante uns dias eu dei por mim a trabalhar com vontade de voltar para casa, tratar dos miúdos, cumprir os serviços mínimos e ir para a cama ler.
Imagino que todos os pais de crianças com autismo o tenham lido.
Mas este livro devia ser de leitura obrigatória para todos os pais e mães, não tanto para darem valor à saúde dos seus filhos mas para sentirem um pouco da angustia e da dor permanente destes pais.
Acho que nos faz falta isto: sofrer pelos outros e sentir-lhes, ainda que temporariamente, o seu sofrimento.
Até porque sabemos bem que, como nos filmes pesados, quando aquilo “acaba” nós voltamos para a nossa vidinha...
Neste tempo em que despachamos a solidariedade para com os outros num post de facebook que nos leva 1 segundo a partilhar e somos todos contra a guerra e o "câncer", ler este livro é um murro no estômago à antiga.
O livro é escrito por um homem e acho que isso se nota; eu pelo menos senti-me tão identificado com as angustias da personagem masculina que não consegui deixar de pensar nisso o tempo todo. Normalmente o género do escritor é-me indiferente mas aqui senti um homem por detrás da escrita e acho que isso acrescenta valor ao livro.
Vi as relações e os sonhos, a sensibilidade e a revolta, as fragilidades e o desencanto tal como penso que eu próprio a sentiria.
E senti como, de alguma forma, todos falhamos às nossas mulheres.
Nós somos uma merda mas ainda assim esforçamo-nos e amamos.
É por isso que todos, homens e mulheres, pais e mães, deviam ler este livro - para nos amarmos mais e nos compreendermos melhor – para não desistirmos de tentar perceber o mundo do outro.
Não sei se é fácil encontrá-lo nas prateleiras das livrarias mas pode encomendar-se on-line.
Autismo é um livro cru, a preto-e-branco, sem pinceladas de cor ou de esperança, sem expectativas de redenção; é uma janela aberta para um quarto escuro.
Mas é preciso lê-lo.
Se eu fosse um organizador de festivais de verão, sei muito bem qual era a primeira banda que tentaria contratar: as Pussy Riot.
E não é só por causa da recente colaboração com o David Sitek (dos TV on the Radio).
Não é porque agora estão numa onda mais pop do que o seu registo habitual como neste (muito bom) "Police State"...
Um Festival é mais do que uma sucessão de concertos avulsos; é um evento cultural que, juntando artistas de diversas origens, procura criar uma identidade comum que os une.
Por isso é que os festivais são diferentes.
Por isso é que há festivais onde as marcas atropelam os visitantes e outros onde os patrocinadores respeitam os espectadores; por isso é que há festivais que apostam na produção negligente de lixo enquanto outros investem em copos recicláveis.
No fundo, e independentemente do tipo de música, ao criar a sua imagem cada festival tenta criar a sua identidade e a sua ética. E é aí que entram as Pussy Riot
Um pouco na senda da frase “Save a life, save a world!" (que a Fundação Aristides de Sousa Mendes costuma usar como "assinatura") eu acho que quem luta pela sua liberdade, no seu País, luta pela liberdade de todos nós em todo o lado. E nisso de lutar pela liberdade as Pussy Riot são um dos grandes exemplos deste mundo porque arriscam a sua integridade, a sua liberdade e a sua vida.
Já foram presas, já foram deportadas para campos de trabalho forçado, já foram impedidas de comunicar com familiares e advogados, são agredidas, e voltam sempre ao seu activismo e à sua luta. Basta um passeio pelo youtube (como aqui) para ficar nauseado pela violência com que são tratadas e espantado com a sua coragem física...
A onda delas pode não ser a minha e se elas fossem Portuguesas talvez as achasse excessivas, panfletárias e radicas – mas elas fazem-no num País que é uma ditadura há séculos e onde lutar pela liberdade se paga frequentemente com a vida.
Mereciam que da parte do mundo livre alguém lhes estendesse a mão para lhes dizer que admiramos a sua coragem, a sua determinação e o seu apego à liberdade que no fundo é de todos nós; alguém que lhes dissesse “- Miúdas, querem vir tocar à nossa terra”.
Trazê-las cá, mais do que propor um concerto, seria fazer uma afirmação moral e ética pela liberdade e contra todas as formas de violência e de opressão.
No fundo a nossa geração só é livre porque alguém lutou por nós e pela nossa liberdade ainda antes de termos nascido; nós podíamos usar a liberdade que nos deram de graça para ajudar a promover a liberdade dos outros.
Só por causa disso, eu gostava mais de ver as Pussy Riot em Portugal do que qualquer outra banda.
Alguém arrisca?
Free Pussy Riot!
De todas as polémicas palermas em que temos sido envolvidos, esta da lei que permite a entrada de animais em estabelecimentos comerciais é das mais parvas de todas.
Desde logo porque, enquanto lei, foi aprovada por unanimidade no Parlamento.
Sim, por unanimidade.
Eu não acho que a Assembleia da República “esgote” a sociedade civil. Mas quando uma lei é aprovada por unanimidade, talvez não estejamos propriamente perante uma “polémica”. Digo eu...
Só os estabelecimentos comerciais que quiserem é que vão permitir a entrada de animais, e só as pessoas que quiserem viver essa experiência é que lá vão entrar – mais simples e livre é impossível.
Perante isto, estar contra esta lei é tão estúpido como estar contra a existência de restaurantes japoneses com o argumento de que não se gosta de peixe cru, ou estar contra a abertura de restaurantes mexicanos e indianos porque o excesso de picante pode fazer mal.
Meus amigos: quem quer vai, quem não quer não vai.
O problema não está na lei nem nos animais nem nos donos nem no suposto politicamente correto.
O problema está numa sociedade civil sopeira que acha que deve opinar sobre a vida dos outros e o que fazem os outros; pior do que isso, uma sociedade civil que se sente no direito de interferir na vida dos outros, como se a vida dos outros interferisse na sua.
É um bocado como um heterossexual ser contra o casamento gay - como se isso mexesse na sua própria vida.
Nesta discussão, como em tantas outras, não há razão dos dois lados nem opiniões diferentes: há apenas as pessoas que percebem que têm liberdade para ir e não ir onde lhes apetece, e a malta com espírito de porteira quadrilheira que, por terem vidas mais poucochinhas e muito tempo livre, passam o tempo a ver e a opinar sobre a vida dos outros.
Deve ser chato estar a jantar e de repente ver o Bobby da mesa do lado a arrear um triplex castanho e pastoso. Mas quem não quiser correr esse risco, só tem que fazer o que sempre fez – ir aos restaurantes onde costuma ir onde não entram animais (é o que eu pessoalmente conto fazer).
Eu quero lá saber se há quem goste comida crua ou cozinhada, se há quem goste de carne ou prefira vegetariano, se gostam de ir jantar com a namorada ou com o Farrusco ou com ambos...
A vida dos outros interessa-me pouco; nisso sou muito pouco tuga, sou muito pouco sopeiro.
Ou como dizia o chavão do filme, get a life...
(nota do editor: este texto foi escrito por um tipo que adora animais, que tem uma cadela, e que não está a pensar de todo ir almoçar ou jantar fora com ela)
A notícia causou alguma surpresa e polémica: a Fórmula 1 decidiu que em 2018 deixarão de existir as “pit-babes” ou “grid girls” ou o que lhes quiserem chamar – são aquelas miúdas giras e com pouca roupa que animavam as grelhas de partida de cada Grande Prémio.
A razão de ser desta “surpresa” e da consequente “polémica” assenta em dois pressupostos: algumas pessoas não acompanham a Fórmula 1 e não sabem que tem uma nova administração/gestão, enquanto outras pessoas não se deram conta de que os tempos estão a mudar – a junção destes dois factores deu origem a reações indignadas que se compreendem à luz deste duplo desconhecimento.
Vamos por partes.
Parte 1.
A Fórmula 1 já não é propriedade de um octogenário que a geria de forma autocrática, ao sabor das suas birras, do seu ego e da sua desmesurada ambição (Bernie Ecclestone). Agora foi comprada por um grupo americano (Liberty Media) que quer tornar este desporto (ainda) mais universal e atrativo para novas gerações e novos mercados.
Quem segue com mais atenção a Fórmula 1 sabe que 2017 foi um ano de absoluta revolução interna no que diz respeito à promoção e ao marketing da modalidade. A medida de acabar com o “espetáculo” das pit-babes não só não surpreende como até seria, de alguma forma, espectável.
Aliás, as pessoas que seguem o automobilismo já sabiam que a FIA tinha acabado há 2 anos com as grid girls no WEC (World Endurance Championship) que é o mais importante campeonato de resistência do mundo e inclui a mais e conhecida prova automobilística do mundo: as 24h de Le Mans.
Concorde-se ou não, é preciso andar um bocadinho distraído para, 2 anos depois, ficar muito surpreendido com o alargamento da mesma medida à Fórmula 1.
Não é a minha opinião, são os factos.
Parte 2.
As Grid Girls são, eram, um resquício de um tempo que já passou.
E nem sequer estou a pensar nos conceitos de machismo, objetificação feminina e seus derivados. Nem é necessário recorrer a argumentos de ordem moral que, já se sabe, são sempre subjetivos.
Basta olhar para o calendário, constatar que estamos em 2018 e perceber que os hábitos de consumo se alteraram radicalmente.
Há umas décadas atrás era o homem quem trabalhava, ganhava o sustento da família e naturalmente decidia o que se consumia. O homem é que comprava o carro, escolhia os lubrificantes, decidia se bebia cerveja ou whisky e qual a sua marca preferida de aperitivo, o homem é que fumava e comprava tabaco, etc.
É apenas natural que o marketing fosse essencialmente dirigido a eles.
Mas por muita pinta que achemos ao Steve McQueen, ou por muita nostalgia que o bigode do Graham Hill ou as patilhas do Jackie Stewart nos causem, esse mundo acabou; pelo menos no ocidente.
As mulheres tornaram-se (muito) mais independentes, passaram a trabalhar, a ganhar dinheiro autonomamente e a decidir o que consomem.
Em princípio qualquer homem que tenha mãe, irmã, mulher, namorada, amigas, primas, conhecidas, colegas de trabalho, etc., e não viva na Arábia Saudita será testemunha deste facto e dessa alteração no paradigma do consumo.
As marcas sabem que em 2018 não basta escolher uma copa F e uma mini-saia de latex para vender um produto. E é por isso que as Pit-Babes acabaram – acabaram porque aquela época acabou e economicamente aquela estratégia de marketing deixou de fazer sentido para a comunicação de muitas marcas.
Com ou sem #metoo, as Pit-Babes estavam condenadas a desaparecer.
Mas há quem ache que o desaparecimento destas beldades das grelhas de partida é só mais uma cedência cobarde ao “politicamente correto” e mais uma vitória do feminismo radical.
A esses dá vontade de recuperar o “It’s the economy, stupid.” do Bill Clinton.
Neste caso seria “It’s the capitalism, stupid.”
É o capitalismo, pá.
As mulheres já não compram só detergentes e as marcas já não comunicam só com decotes, perceberam?
E se as Grid Girls desapareceram de Le Mans 2 anos antes do advento #metoo, se calhar não existe uma relação causa efeito entre os dois acontecimentos...
Mais uma vez, não é a minha opinião - são os factos.
Parte 3.
E agora vamos à minha opinião...
Eu gosto de ver mulheres bonitas, e nas grelhas de partida da Fórmula 1 a apresentação até primava pelo bom gosto. E era giro ver as diferenças regionais porque cada organização recrutava localmente as suas grid girls o que fazia com que o “espetáculo” fosse diferente no GP de Itália, do México ou do Japão.
Mas por muito bonitas que sejam e por muito bom gosto que tivesse a sua apresentação nas grelhas da Fórmula 1, nada diminui o facto de que naquela ocasião as mulheres estavam a ser utilizadas apenas como meros acessórios decorativos.
E eu não vibro com esse estatuto...
Eu sei que elas não são obrigadas a fazê-lo, muitas serão modelos profissionais e são pagas para isso, mas eu olho para esta foto e não é esta imagem do mundo que quero para os meus filhos.
É só isso. Ou como disse o Flávio Gomes (uma instituição do jornalismo motorizado no Brasil), “neste caso o 'politicamente correto', na verdade, é só o 'correto'”.
Parte 4
Querem uma Grid Girl a sério?
Eu dou-vos uma: chama-se Christina Nielsen, é gira que se farta e foi a campeã IMSA em 2016 e 2017!!!
Sim, ela é vistosa e passeia-se nas grelhas de partida.
Mas em vez de andar vestida de bibelot e a fazer de jarrão sexy, veste o fato de competição, põe o capacete e ganha corridas e campeonatos.
Ela é tão fixe mas tão fixe (mas tão fixe) que a Lego até vai lhe vai dedicar um set este ano.
Espero que muitas miúdas sigam o seu santo exemplo e ajudem a transformar o mundo num sítio com mais igualdade e menos preconceito.
Este ano ela partiu-me o coração e foi para a Porsche mas ainda assim...
GO CHRISTINA!!!
Até há 2 dias atrás vi muita gente interessada em demitir a Ministra da Administração Interna e muita gente preocupada com o facto de haver quem a quisesse levar à demissão - gente ralada com a crispação que ela despertava, incomodada com as perguntas da imprensa, indignada com os pedidos de demissão, maçada com a pressão de que era alvo, etc.
E dá-me vontade de perguntar: das 3 palavras da frase “morreram cem pessoas”, qual é que ainda não perceberam?
Mas a verdade é que parece que não percebemos.
Falamos de 100 mortos como se fosse um incómodo, uma espécie de contratempo - como se fosse um engarrafamento em Agosto a caminho da praia ou um apagão quando estávamos a ver a Guerra dos Tronos.
O PS diz que não tem responsabilidades apesar de ser o actual governo e de ter sido governo durante décadas no passado; o PSD diz que não tem responsabilidades apesar de ter liderado o último governo e de ter sido governo durante décadas no passado.
Vejo gente a discutir se o discurso do PR prejudica a esquerda ou se certo jornalista é de direita, como se os mortos tivessem cor política.
Morreram 100 pessoas e nos posts e caixas de comentários dos nossos amigos há quem se entretenha com o debatezinho de merda entre esquerda e direita.
E foi aí que percebi como de facto o interior do País está abandonado.
Morreram 100 pessoas, destruíram-se dezenas de milhares de vidas e nós estamos a discutir minudências.
O interior não foi só abandonado pelo poder político, foi abandonado por nós.
A primeira geração que migrou para o Litoral ainda foi mantendo alguma proximidade com aqueles lugares, a segunda geração talvez lá tenha ido brincar nas férias de verão e mantém alguma relação afectiva, mas a terceira geração já nem sabe onde ficam nem quer saber.
No fundo foi como se esses sítios tivessem morrido para a maior parte de nós.
E é por isso que estas 100 mortes, ocorridas muitas delas nesses sítios que para nós não existem, não despertem assim tanta urgência e permitem que o status quo do poder político se mantenha.
Morreram 100 pessoas, é certo, mas não eram propriamente pessoas como "nós".
Se um maluco qualquer se tivesse feito explodir no Chiado matando 10 ou 20 pessoas a nossa indignação colectiva seria provavelmente maior.
Mas não... eram só 100 pessoas, muitas delas idosas e quase sozinhas a viverem em lugares recônditos com nomes de terras que nos dão vontade de rir e que nem sabíamos que existiam.
O interior desertificou-se mas nós não o abandonámos apenas fisicamente; abandonámo-lo afectivamente e deixámos aquelas pessoas para trás.
Tornámo-nos tão urbanos que nos tornámos insensíveis a tudo o que não é o nosso modo de vida urbano.
A Dona Alzira que morreu não ia a discotecas à beira Tejo e o Sr. Joaquim que perdeu a quinta e o trator não ia a jantares gourmet em restaurantes da moda.
Também para que raio queria ele um trator? Nós aqui em Lisboa nunca precisámos de trator...
Ardeu uma serração e ficaram umas centenas de pessoas desempregadas?
Para nós não há problema porque as prateleiras do IKEA estão sempre cheias.
Ardeu um aviário com os animais lá dentro e esfumaram-se os empregos daquelas pessoas?
Paciência; se calhar há quem pense que os frangos nascem em embalagens de plástico já sem penas nem miudezas, e aqueles trabalhadores não são gente para ir ao Web Summit.
Desligámo-nos do nosso País e ele deixou de nos pertencer.
Morreram 100 pessoas em terras onde provavelmente nunca fomos, e havia gente preocupada com a chatice e as consequências que isso acarreta para quem estava no Terreiro do Paço ou em São Bento.
Uns queriam manter a Ministra para mostrar a solidez do governo, outros queriam provocar a demissão para abrir uma potencial brecha de fragilidade no governo.
Todos os partidos têm a sua agenda particular, os seus interesses e as suas clientelas, mas sabemos que 45% da população portuguesa vive nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.
E se entretanto morreram 100 pessoas fora dos grandes centros, eu sinto que de alguma forma todos nós as abandonámos também.
É claro que o poder político as abandonou há décadas; mas o poder político só as abandonou porque sabe que aquelas pessoas e aqueles lugares foram abandonados por nós e deixaram de interessar à maioria.
Criámos uma distância tremenda entre “nós” e “eles”, e temo que essa distância nos pode vir a matar enquanto comunidade.
Mas é claro que ainda vamos bem a tempo de nos voltarmos a apaixonar pelo nosso País, pelos seus lugares, pelas suas gentes e pela sua diversidade.
Parecendo que não, já cá andamos há quase 900 anos...
VAMOS AJUDAR?!?
A Unicef só nos escreve muito de vez em quando.
Pelo Natal, a agradecer o apoio prestado e a pedir para o renovar, ou quando há merda da grande.
Tipo... merda tão grande que nem uma organização do tamanho da Unicef/ONU consegue reunir os meios necessários para acudir a uma emergência.
Em Myanmar existe uma comunidade, os rohingya, que não possui direitos de cidadania: estão impedidos de viajar sem autorização oficial, impedidos de trabalhar em instituições públicas ou privadas, impedidos de possuir terras e impedidos de aceder ao sistema de educação.
Sendo alvo de perseguições desde há décadas, esta comunidade começou a ser alvo de uma operação de limpeza étnica sistemática a partir de 2013.
Diz a carta da Unicef:
“A violência contra este povo empobrecido e perseguido há anos intensificou-se enormemente nas últimas semanas. Desde 25 de Agosto mais de 410.000 rohingyas, dos quais 260.000 são crianças, atravessaram a fronteira com a roupa que tinham no corpo.
Contam histórias horríveis de rapto, de morte, de casas incendiadas.
E o êxodo continua com novas chegadas todos os dias ao Bangladesh.
A maioria das crianças chega só com as mães, pois os pais ou estão desaparecidos, foram mortos ou ficaram em Myanmar, mas algumas chegam sozinhas. Para além da dor e do trauma que sentem neste momento, estas crianças estão expostas a doenças, fome, exploração, deixando-as num enorme estado de vulnerabilidade.”
Podíamos abrir um debate sobre responsabilidades e culpas, questões políticas, religiosas e étnicas, mas este não é manifestamente o local (nem o momento).
Neste momento há centenas de milhares de crianças num estado desesperado e nós até nos podemos queixar da inércia da chamada “comunidade internacional”.
Acontece que nós também somos a tal “comunidade internacional”.
Para que a comunidade internacional seja algo de que nos possamos orgulhar, podemos dar um primeiro passo: ajudar.
Façamos a nossa parte antes de nos queixarmos das falhas dos outros.
Todos temos um cartão multibanco e todos podemos contribuir consoante as nossas possibilidades.
Todos os donativos ajudam mesmo os que possam parecer insignificantes; a título de exemplo, se 84 pessoas oferecerem um euro (1€) a Unicef consegue colocar no terreno mais 20.000 pastilhas de purificação de água.
Por outras palavras, todos os euros ajudam a salvar vidas.
Em vez de nos queixarmos de que o telejornal só dá desgraças, vamos ajudar um bocadinho a minorar esta tragédia.
Vamos ser um bocadinho mais cidadãos e mais solidários – vão ver que depois de ajudar se sentem melhor.
Com sorte até vão querer fazer disso um hábito.
VAMOS AJUDAR?!?
Eu tento ser militantemente do contra.
E como fã irredutível Monty Python, juro que tentei ficar do lado do Terry Gilliam no meio desta confusão toda.
Primeiro resisti à tentação de me indignar logo com as primeiras notícias incendiárias que falavam de um Convento de Cristo em Tomar “parcialmente destruído” (credo).
Depois esperei que surgissem mais notícias, imagens, justificações oficiais, enfim... mais fontes para poder saber melhor o que pensar sobre a polémica das filmagens em Tomar.
Ao fim de alguns dias a poeira foi assentando e o Convento de Cristo que tinha sido “parcialmente destruído” afinal parece que teve como danos (a fazer fé nas notícias mais recentes) 6 telhas partidas e 4 fragmentos de pedra danificados o que corresponde a 2.900€ de danos que a produtora do filme irá pagar.
Parece que não foi grave, ou pelo menos não terá sido tão grave quanto inicialmente se supunha.
Falso.
É grave, é mesmo muito grave.
Pessoalmente acho óptimo que se arrende património para fins culturais (ou outros) como estratégia para o divulgar e/ou ajudar a rentabilizar.
Ainda recentemente o Museu dos Coches foi utilizado durante o 1º Salão Internacional do Veículo Elétrico, Híbrido e da Mobilidade Inteligente , juntando no mesmo espaço os coches centenários e os veículos do futuro amigos do ambiente, sem colocar em risco físico o património existente – é um exemplo de uma boa ideia que promove o nosso património e assegura receitas extra para o museu em causa.
Mas aquilo que aconteceu em Tomar ultrapassa tudo aquilo que seria recomendável.
Em primeiro lugar, e reconhecendo a minha ignorância na matéria, não percebo como é que em 2017 é preciso fazer de facto uma fogueira de 20 metros para filmar uma fogueira de 20 metros – estava convencido que os efeitos especiais no cinema estavam um bocadinho mais avançados do que isso e se podiam simular factos e acontecimentos sem ter que os reprodizir à escala real - à partida o recurso a maquetes e a meios digitais permite isso com economia de custos e de riscos.
Permitir que se faça uma fogueira com 20 metros de altura (a altura de um prédio de 6 andares) dentro dos claustros do convento, alimentada por 20(!) botijas de gás é uma perfeita aberração.
De pouco me interessa que digam que estavam presentes representantes dos bombeiros e a proteção civil – se as botijas explodissem o que faria essa gente para além de falecer com estrondo?
De pouco me interessa que digam de que havia um seguro de 2,5 milhões de euros – se houvesse uma explosão a seguradora construía um Convento de Cristo novo, a estrear, pelo valor de uma moradia no Restelo? Com uma Janela do Capítulo em pladour?
De todas as explicações que li, a mais fofa (chamemos-lhe assim) vem da representante da produtora. Diz Pandora da Cunha Telles que o facto de o monumento aparecer no filme “contribuirá, esperamos, para incrementar o interesse em Portugal, trazer mais turistas ao país”.
A ver se entendo...
O filme chama-se “O homem que matou Dom Quixote” e a fogueira da polémica evoca (nas palavras do realizador) as festas populares de Las Fallas em Valência.
Portanto a senhora Pandora acha que as pessoas vão ver um filme sobre a mais importante personagem da literatura Espanhola onde há uma cena que evoca uma festa popular de uma cidade Espanhola e vão dizer: “- Ai pá, temos que ir a Portugal, caraças” (e dizem isto nas suas línguas maternas).
Ó Pandora, ou distribuem um flyer com uma ficha técnica onde explicam a localização de todos os pontos de filmagem (e obrigam o público a lê-la), ou então provavelmente a exibição do filme vai contribuir tanto para a promoção de Portugal como da Nova Zelândia ou do Cazaquistão.
Agora a sério, ainda bem que tudo acabou sem danos irreparáveis.
Mas entre outros fins relevantes, eu também pago impostos para que o património seja preservado e salvaguardado, e para que as pessoas que sofrem de distúrbios mentais mais ou menos graves tenham o devido acompanhamento médico se for caso disso.
A verdade é que todas as reações oficiais até ao momento roçam o anedótico.
Bom, pelo menos nisso são dignas de um filme dos Monty Python.
Esta semana fomos todos confrontados com a divulgação de um vídeo (por parte do Correio da Manhã) onde se vê uma jovem a ser agredida sexualmente num autocarro enquanto o resto dos passageiros se ri e incentiva o agressor.
Perante tamanha violência, confesso que me apeteceu comprar umas caixas de acendalhas e reservar o Terreiro do Paço para uns autos de fé onde caberiam o agressor, muitos dos passageiros bem como os responsáveis pelo pasquim.
Contive-me muito para não escrever sobre o assunto e ainda bem que o fiz – não há nada como conter o primeiro impulso incendiário e deixar assentar alguma poeira para depois conseguir refletir com um pouco mais de frieza (ou lucidez) sobre o assunto.
E como tantas vezes acontece quando me ponho a pensar nas coisas, acabo com muito mais dúvidas do que certezas.
As poucas certezas que tenho são as de que o agressor é uma besta e um predador, os amiguinhos não são melhores do que ele e o Correio da Manhã é um esgoto a céu aberto.
Ainda assim, há várias perversidades no meio disto tudo; vamos por partes...
Estou convencido que é o vídeo que faz a notícia. Sem vídeo não havia indignação e tudo se resumiria a um não-acontecimento ou a uma pequena nota de rodapé fazendo alusão a um alegado abuso, uma alegada vítima e um alegado agressor; seria uma pequeníssima notícia canibalizada pelo frenesim das demais notícias do dia.
Mas por causa da existência e publicação do vídeo, aquela agressão transformou-se na notícia do dia provocando ondas de choque e indignação, mas também de reflexão e de tomada de consciência do muito que temos que fazer se quisermos caminhar para uma sociedade que se pretende civilizada (o que é sempre benéfico).
Experimentem a googlar “jovem violada” para verem quantas dezenas ou centenas de violações (bem mais graves) foram apenas notas-de-rodapé nos media sem terem gerado esta onda de reações...
Por outras palavras, o problema para mim pode nem estar tanto na divulgação do vídeo (no seu site o CM distorceu as imagens a ponto de ser impossível identificar a vítima) mas sim na forma como é feito e no órgão onde é feito.
Se um meio de comunicação social de referencia tivesse divulgado o vídeo com as imagens distorcidas e uma nota do conselho de redação a explicar que o faziam não pelo exibicionismo grotesco mas antes como forma de alerta contra todo e qualquer abuso sexual e para que se promova uma discussão sobre o nosso papel enquanto sociedade na luta contra este tipo de abusos, talvez o efeito não fosse tão perverso.
Mas ser o Correio da Manhã a fazê-lo com o teaser “VEJA O VÍDEO” muda tudo.
A perversidade é precisamente essa: a publicação por parte do CM é apenas um nojo, mas sem isso não estaríamos a falar na urgência de combater a violência sexual, o preconceito de género e a objetificação da mulher.
O drama da vítima é o mais importante no meio disto tudo e também não sei se esta onda de indignação (ou de solidariedade e compaixão pelo que lhe aconteceu) a ajuda muito.
O crime terá ocorrido há uns dias e, pelo que sabemos, não foi feita nenhuma queixa.
Mas a partir do momento em que outras organizações pegam neste caso concreto e procuram que as autoridades atuem, será que estão a agir de acordo com a vontade da vítima?
Até pode ser que a vítima não tenha tido inicialmente coragem para formalizar uma queixa e pode ser que esta onda de solidariedade lhe dê a força e o apoio de que precisa para o fazer.
Mas também pode acontecer que a vítima prefira tentar esquecer o que aconteceu (o que também seria legítimo) e se calhar estamos todos a meter-nos na vida dela e a tentar empurrá-la para um processo que ela pode não querer assumir.
Aparentemente a PJ está a tratar o caso como crime semi-público pelo que depende de queixa da vítima.
Mas se condicionarmos a vítima para avançar com um processo crime que a levasse a depor e a dar a cara publicamente, não estaremos a agredi-la novamente?
Não se estará a forçar a vítima a uma exposição acrescida e a uma nova humilhação que ela pode estar a tentar evitar a todo o custo?
Só a vítima o sabe e da vontade dela pouco sabemos o que torna tudo isto ainda mais perverso.
A última perversidade advém do abuso de linguagem a que assisti nalguns posts e comentários (legitimamente) indignados em que se falava abertamente de violação.
Não, meter a mão dentro das calças da vítima não é uma violação.
O mal têm definições e graduações para que saibamos do que se está a falar.
Acontece o mesmo com os crimes.
Aquilo que aconteceu será um acto de violência sexual, uma agressão sexual, uma humilhação sexual (não faltarão adjectivos) e o facto de ter sido filmado e divulgado só agrava a situação.
Mas chamar-lhe violação é menosprezar, ainda que involuntariamente, o drama e a violência de que foram vítimas todas as mulheres que foram de facto violadas.
E isto não tem a ver com pôr paninhos quentes ou diminuir a gravidade dos factos – é apenas trata-los com um mínimo de rigor.
Nós não damos nomes aos actos (ou aos crimes) só porque eles nos chocam.
Uma agressão física, por grotesca e violenta que fosse, não passava a ser homicídio só porque nos indigna muito.
Há uns tempos uma cineasta francesa realizou uma curta-metragem, seguramente bem intencionada e com o intuito de alertar consciências para o problema das violações dentro do casal; mas para tornar o seu grito de alerta mais dramático, acaba por colocar praticamente no mesmo plano moral e ético a cena de violação (e brutal espancamento) do filme Irreversível e uma cena de sexo entre um casal de namorados em que ela não está com muita vontade, começa por dizer que não mas acaba por aceder.
Ela querer explicar que também existe violação dentro do casamento (e é claro que existe); mas ao filmá-la daquela forma trata a violação como se fosse apenas um contratempo, uma chatice, uma queca que não estava a apetecer mas que se acaba por deixar acontecer.
E esta leviandade de desvalorizar a violação parte muitas vezes das próprias mulheres; têm tanta vontade de se revoltar (legitimamente) contra a proliferação de agressões sexuais que exageram na adjectivação para provocar o choque e acentuar a gravidade do fenómeno.
E isso é perverso.
Faz um bocado lembrar as pessoas que se chocam tanto com atropelos aos direitos humanos que perdem a noção da realidade e desatam a comparar tudo ao holocausto.
Não, a guerra na Síria não é o holocausto. É horrível ver crianças a morrer em directo na TV, mas aquela monstruosidade não é o holocausto.
Não, meter a mão dentro das cuecas de uma miúda e apalpá-la não é uma violação. É horrível ver uma miúda indefesa a ser humilhada e abusada com uns palhaços a filmarem e grunhirem de entusiasmo, mas aquilo não é uma violação.
Senão, quando acontece de facto uma violação, chamamos-lhe o quê?
Como é que exageramos? Que nome damos?
Para acabar recomendo este vídeo.
Só porque sim. É raro ver um violador e uma vítima a darem a cara.
É preciso ter muita coragem para assumir que se sofreu uma violência do tamanho da violação, mas também é preciso coragem (ainda mais rara) para assumir que todos temos um lado negro que pode vir à superfície.
Vale a pena...
Podia parecer mal este ser o único blog de Portugal e arredores a não fazer um post sobre o Salvador Sobral por isso, cá vai.
Nota prévia: eu não gosto de unanimismos e unicidades – tenho alergia, dá-me urticária.
Posto isto, e perante o enervante entusiasmo em relação ao novo formato do nosso Festival da Canção, tratei de não lhe ligar pevide.
Nem o facto de também participar a Márcia (e eu sou Marciano, acreditem) me levou a ligar a tv naquela noite.
Depois ganhou o Salvador Sobral e o entusiasmo em relação à canção vencedora tornou-se insuportável.
Por essa razão, e porque eu não sou de embirrar sem conhecimento de causa, fui ver que fenómeno era esse que estava a criar tão enervante unanimidade.
Como bom velho dos Marretas, lá fui saber quem era o cantor para o poder deitar abaixo com propósito e maneiras.
Então mas não é que o Salvador Sobral é aquele concorrente do Ídolos de há uns anos?
Aquele da única edição que eu segui e que até era o concorrente com quem eu mais simpatizava?
Ora bolas, não vou conseguir embirrar com ele.
Canta lindamente, tem (muito) bom gosto musical e tem “sou uma joia de moço” escrito na testa; olha-se para ele e simpatiza-se logo.
Bom, mas um marreta não desiste – de certeza que consigo malhar no autor da canção que toda a gente estava a adorar.
Ah! Ca porra. É a Luísa Sobral que é irmã dele e eu não sabia.
Que chatice... eu era incapaz de embirrar com ela. Adoro-a.
Por acaso só tenho um disco dela e só a vi ao vivo uma vez mas tenho um fraquinho muito sério pela Luísa Sobral.
Gosto de rigorosamente tudo nela.
Da voz, das canções, da imagem, da intervenção cívica... aquele arzinho de fada a cantar com a harpa é, para mim, absolutamente irresistível.
Não és tu Joanna Newsom, é ela...
Bom, mas se não consigo embirrar com o cantor nem com a compositora, ainda posso embirar com a canção.
Mesmo aquele duo pode ter um momento de desinspiração e, sendo o Festival da Canção, de certeza que a canção é manhosa.
Ehhh... Não!
Irra que a canção é belíssima e a letra é maravilhosa.
Como é que uma balada tão suave e apenas sussurrada consegue entrar no ouvido a ponto de eu a assobiar quando estou a pôr a loiça na máquina ao fim da primeira audição?!?!
Ó pá, acreditem que eu tentei manter-me à margem daquilo, fiz de conta que não sabia o que era, e quando fui ver fui munido de uma vontade inabalável de dizer mal e de deitar abaixo só para ser do contra.
A verdade é que não consegui
Os manos Sobral não me deixaram ser marreta.
Só por causa disso fico a odiá-los um bocadinho...