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Se eu fosse um organizador de festivais de verão, sei muito bem qual era a primeira banda que tentaria contratar: as Pussy Riot.
E não é só por causa da recente colaboração com o David Sitek (dos TV on the Radio).
Não é porque agora estão numa onda mais pop do que o seu registo habitual como neste (muito bom) "Police State"...
Um Festival é mais do que uma sucessão de concertos avulsos; é um evento cultural que, juntando artistas de diversas origens, procura criar uma identidade comum que os une.
Por isso é que os festivais são diferentes.
Por isso é que há festivais onde as marcas atropelam os visitantes e outros onde os patrocinadores respeitam os espectadores; por isso é que há festivais que apostam na produção negligente de lixo enquanto outros investem em copos recicláveis.
No fundo, e independentemente do tipo de música, ao criar a sua imagem cada festival tenta criar a sua identidade e a sua ética. E é aí que entram as Pussy Riot
Um pouco na senda da frase “Save a life, save a world!" (que a Fundação Aristides de Sousa Mendes costuma usar como "assinatura") eu acho que quem luta pela sua liberdade, no seu País, luta pela liberdade de todos nós em todo o lado. E nisso de lutar pela liberdade as Pussy Riot são um dos grandes exemplos deste mundo porque arriscam a sua integridade, a sua liberdade e a sua vida.
Já foram presas, já foram deportadas para campos de trabalho forçado, já foram impedidas de comunicar com familiares e advogados, são agredidas, e voltam sempre ao seu activismo e à sua luta. Basta um passeio pelo youtube (como aqui) para ficar nauseado pela violência com que são tratadas e espantado com a sua coragem física...
A onda delas pode não ser a minha e se elas fossem Portuguesas talvez as achasse excessivas, panfletárias e radicas – mas elas fazem-no num País que é uma ditadura há séculos e onde lutar pela liberdade se paga frequentemente com a vida.
Mereciam que da parte do mundo livre alguém lhes estendesse a mão para lhes dizer que admiramos a sua coragem, a sua determinação e o seu apego à liberdade que no fundo é de todos nós; alguém que lhes dissesse “- Miúdas, querem vir tocar à nossa terra”.
Trazê-las cá, mais do que propor um concerto, seria fazer uma afirmação moral e ética pela liberdade e contra todas as formas de violência e de opressão.
No fundo a nossa geração só é livre porque alguém lutou por nós e pela nossa liberdade ainda antes de termos nascido; nós podíamos usar a liberdade que nos deram de graça para ajudar a promover a liberdade dos outros.
Só por causa disso, eu gostava mais de ver as Pussy Riot em Portugal do que qualquer outra banda.
Alguém arrisca?
Free Pussy Riot!