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Je ne suis pas Cordes, mas...

 

Nunca achei piada ao Rui Sinel de Cordes.

E sendo ele humorista de profissão, isso é no mínimo inconveniente.

Não há nada mais constrangedor do que um humorista que não nos faz sequer esboçar um sorriso.

Eu gosto de humor negro, de sarcasmo, de ácido sulfúrico, e para mim não há assuntos com que não se deva brincar.

Mas não gosto do Rui Sinel de Cordes; acho que para fazer humor negro é preciso, antes de tudo, fazer humor.

O problema pode ter a ver com o ângulo mas tem sobretudo a ver com a preguiça e com alguma cobardia: o Rui Sinel de Cordes escolhe sempre o mesmo caminho fácil - atacar a parte mais fraca de uma história.

As piadas que lhe conheço são sempre fáceis e boçais, mas o pior é que isso também o torna previsível; é fácil estar perante um acontecimento grotesco e pensar:

O Rui Sinel de Cordes diria isto...

Ele é um tipo inteligente e sabe que terá o impacto que lhe quisermos dar; sabe que quanto mais polémica causar, mais visibilidade e espaço vai ter.

Já percebeu que lhe basta mandar umas bojardas para andar nas bocas do mundo, e se calhar é por isso que escolhe sempre aquele caminho fácil e de retorno garantido.

No fundo, se aqueles que o odeiam tanto falassem menos dele, muitas das piadas que ele criou e de que não gostei não teriam sido replicadas e não teriam sequer chegado ao meu conhecimento.

Por essa razão, eu que não gosto dele gosto ainda menos dos que o odeiam.

 

À parte destas considerações, já me cansam os movimentos de indignação contra pessoas que objectivamente não nos fizeram mal, mesmo se foram (muito) inconvenientes ou ofensivas.

Ontem queriam matar o José Cid, hoje querem trucidar o Rui Sinel de Cordes.

Ele tem razão quando diz no seu site:

"Em Portugal, um gajo que destrói a vida de centenas de famílias é o “dono disto tudo”. Um humorista que falhou uma piada ou tocou num tema que não gostamos é um filho da puta que devia morrer."

Já ia sendo tempo de sermos mais exigentes e de canalizarmos o nosso ódio colectivo contra aqueles que nos fazem objectivamente sofrer, em vez de querermos sempre crucificar o entertainer que não nos agrada ou nos causa repulsa.

 

Em condições normais o Rui Sinel de Cordes não merecia sequer ser debatido, quanto mais abatido...

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publicado às 14:00


38 comentários

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Maria das Palavras a 16.06.2016

Acho que é mesmo questão de gosto. Não acho que sejam abordagens fáceis ou pouco criativas, há outros humoristas desse nível de "negrura" que caem na provocação fácil e talvez por isso não encham as salas que ele enche.. Eu gosto de humor negro e gosto do Sinel de Cordes - o que não quer dizer que me ria das piadas todas dele.

A gestão disto é simples. É tão fácil como as pessoas saberem separar opiniões de humor e se não gostam deste tipo de humor distanciarem-se dele. Ponto.

Mas odiar faz parte da sociedade, antes fosse tudo em forma de humor. Piadas não aleijam. Mesmo as que nos tocam e falam das nossas fragiidades. O que aleija são os tiros disparados em Orlando ou as coisas de que falam nas ameaças de morte que lhe são dirigidas. Odiamos os gays, odiamos quem mata os gays, odiamos quem fala da situação. Onde é que pára?
E acho que ele, o RSC, disse tudo, absolutamente tudo o que havera para dizer no texto que publicou no seu blog acerca dos limites do humor e de como as pessoas lidam - ou não sabem lidar - com ele. E da hipocrisia que é este tipo de ódio.
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Fernando Caeiro a 16.06.2016

Subscrevo-te.
O princípio que devia reger isto é o do “é proibido proibir”.
Eu não gosto dele mas não quero viver num sítio onde ele é impedido de fazer o humor que faz ou ameaçado pelo facto de o fazer.
Acho que o único limite à liberdade de expressão seria quando se passasse da piada passiva para o apelo à ação.
Por outras palavras, fazer piadas a gozar com pretos ou homossexuais é liberdade de expressão (por muito que nos deixe nauseados); incitar ao ódio racista ou à homofobia não é liberdade de expressão – é crime.
O que me faz confusão é este culto do ódio que leva as pessoas a seguirem nas redes sociais gente de quem não gostam só para poderem destilar fel.
É tão fácil (e saudável) ignorar as coisas de que não gostamos...
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Maria das Palavras a 16.06.2016

E a isto acrescento, um post aparentemente muito atual, porque já ninguém se lembra que defendeu o humor "racista" de Charlie Hebdo , nessa altura fomos todos Charlie: http://www.mariadaspalavras.com/charlie-hebdo-sinel-de-cordes-e-o-116394

(talvez o segredo seja explodir, se o RSC explodisse é que eramos todos Cordes)
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Gaffe a 16.06.2016

Maria, minha boa amiga, concordo contigo, não posso deixar de concordar, mas não consigo deixar de acompanhar o pai das crianças. Mas a verdade é que também não fui grande Charlie.
Para fazer humor negro, como é dito, é necessário antes de tudo ter humor. Eu acrescento, inteligência.
Nunca considerei inteligente o "humor" do senhor de quem se fala.
Às vezes, há coisas que acabam - ou que deviam acabar - porque não prestam.
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Maria das Palavras a 16.06.2016

Concordo contigo (e com o pai das crianças) mas continuo a achar que é uma questão de gosto. Não me tenho em má conta e sempre gostei do humor do RSC, ainda antes de ele ser falado nos media e ser envolvido nestas polémicas (pelo menos que eu spubesse). Eu sempre gostei, vocês nunca gostaram. Por isso eu tinha um like na página e já fui a espetáculos dele e vocês nunca foram, provavelmente.

Isto é daquelas coisas que não se discutem: também há quem use Crocs...
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Anónimo a 16.06.2016

Comentário apagado.
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Fernando Caeiro a 16.06.2016

Vocês desculpem-me mas as havaianas dão-me cabo da pele dos pés, a sério.
As crocs são apalhaçadas mas são giras e não me lixam os presuntos.
Tenho dito.
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Gaffe a 17.06.2016

Usar crocs é ter sentido de humor
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Fernando Caeiro a 16.06.2016

Bom texto esse sobre o Charlie Hebdo (o teu e o dele).
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Rui Boamorte a 16.06.2016

Não percebo porque é que você excluiu o meu comentário. Gostaria que me explicasse, seria bom, ou ao menos seria simpático da sua parte.
Cump.
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Fernando Caeiro a 16.06.2016

O blog é público mas é a minha casa.
Não me conheces de lado nenhum e desataste a chamar-me mesquinho, parolo e hipócrita.
Não te parece suficiente para eliminar o teu comentário?
Foi assim que te ensinaram a falar com pessoas com as quais discordas?
Eu escrevo um texto contra o ódio, tu partes para a ofensa gratuita e achas estranho que eu apague?
Não me apeteceu perder tempo contigo.
Faz-te o favor de não perder tempo comigo...
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Maria a 16.06.2016

O artista italiano Piero Manzoni, fez uma obra de arte, a que chamou “Merda d'artista”.
Que consiste numa série de 90 latas contendo as fezes do próprio, vendia-as ao preço do peso do ouro.
Está inclusive no respeitável, Tate Museum de Londres.
Foi um ato subversivo?
Arte é discutível.
Com isto quero dizer, que humor e grotesco são completamente opostos.
E este Sinel de Cordes inclui-se no segundo.
É pequeno demais, para ter alguma importância.
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Fernando Caeiro a 16.06.2016

Toda a criação humana é discutível.
Mas é precisamente por não gostar do humor do Sinel de Cordes que fiz questão de escrever este texto a defender o seu direito a fazer coisas de que eu não gosto.
É assim que deve ser.
Da mesma forma que o Charlie Hebdo tem que ter o direito a publicar cartoons que me causam repulsa.
Mas em bom rigor te digo: um gajo como eu que tem 4 filhos e chegou a ter 3 cães ao mesmo tempo, já mudei tanta fralda e já apanhei tanta poia que desenvolvi uma razoável capacidade de resistência à merda :-)
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ó menina a 16.06.2016

Será sempre, para mim, um mistério como não há quem ache piada a estes senhores mas, eles continuam a ganhar a vida a fazer 'humor'.
Acho que nem tudo é permitido sob o manto da liberdade de expressão, a ofensa não deve ser permitida apenas porque se lhe coloca o adjectivo de humor ou é dita por um pseudo humorista.
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Anónimo a 16.06.2016

Comentário apagado.
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ó menina a 16.06.2016

Não me refiro a mecanismos legais refiro-me à consciência e responsabilidade individual ou institucional (no caso das empresas que contratam). A verdade é que este tipo de atitude, deste humorista ou outros, é frequente e gera sempre o mesmo tipo de polémica. E, a todos quantos comentam só vejo dizer que não lhe acham graça, então, porque lhes continua a ser permitido que o façam e tirem lucro disso?
Claro que ninguém deve ser proibido de expressar uma opinião ou fazer humor no entanto, sabemos (e não me estou a referir a esta piadola) que muito haveria a dizer sobre isso, já que a ofensa, discriminação, racismo, xenofobia... Continuam e perpetuam-se muito bem disfarçados graças à liberdade de expressão ou ao entendimento que fazem dela.
É a minha opinião que espero estar a expressar livremente por aqui. Condenar a minha opinião com uma exposição de conhecimentos ao nível de uma oral pobrezinha, de quem vai à faculdade ver se desenrasca um 10 não me parece muito justo. Bastava dizer 'não concordo' ou abrir um pouco a cabeça à possibilidade de alguém tecer um comentário simples, sem segundas intenções e em tom mais coloquial.
Obrigada.
Fico (definitivamente) por aqui quanto a este assunto.
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Fernando Caeiro a 16.06.2016

Desculpa-me se pareci sobranceiro.
Não só não condeno a tua opinião como não conseguiria aguentar um 10 numa oral (eu desisti da FDL - true story).
Mas acho que a questão se mantém - não há (felizmente) mecanismos que possam regular a consciência de ninguém.
O que é ofensivo para uns não é para outros.
Uma das coisas de que não gosto neste senhor é precisamente o facto de, com o seu trabalho, ajudar a manter e a consolidar os preconceitos que referes.
Eu não me limitei a responder-te "não concordo" precisamente porque em parte concordo contigo.
Continuo é sem ver outro caminho que não seja permitir que algumas pessoas de quem não gostamos digam coisas que nos incomodam.
Pegando na tua expressão, "continua a ser-lhes permitido que o façam" porque esse é o preço a pagar para vivermos em liberdade e podermos, nós também, expressar opiniões que podem eventualmente incomodar outros.
A tua opinião é bem-vinda aqui; desculpa se a minha resposta soou deslocada, a sério.
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Fernando Caeiro a 16.06.2016

Acho que estamos a falar de coisas diferentes porque objectivamente existem limites à liberdade de expressão e a ofensa (de que falas) não é permitida.
A lei já impõe limites à liberdade de expressão e até a Constituição da República refere o "direito ao bom nome e à reputação" como direitos de personalidade.
Se eu te ofender, tu processas-me e sujeitamo-nos ambos às regras do Estado de Direito.
Os tribunais estão cheios de processos por ofensas - isso é o Estado de Direito a funcionar.
Eu não quero "não-permitir" as coisas de que não gosto.
Nem no humor nem na música nem no cinema nem em nenhuma forma de arte.
Sob pena de alguém querer "não-permitir" as coisas de que gosto.
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Kok a 16.06.2016

Sou um apreciador do humor e, consequentemente, de muitos humoristas.
Dos humoristas que aprecio gosto de quase todas as suas actuações.
Dos que não aprecio poucas serão as de que gosto.
As actuações daqueles vejo sempre que posso; das destes raramente me interessam.
Até pode acontecer que a mesma piada, dita por um daqueles eu lhes "ache piada" mas se for por um destes, nem por isso!
Porque cada um tem a sua sensibilidade e daí o "sentido humorístico", de cada pessoa é variável, felizmente.
Todavia não me passaria pela cabeça matar o humorista. (aliás, nem ninguém; digo-o para que conste). Há coisas com que não concordo mas isso não é somente relacionado com o humor e/ou humoristas.
Eles devem ser livres para o fazer e eu tenho que ser (e devo ser) livre para não gostar e/ou criticar.
1 abraço pah!
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Francisco Rosário a 16.06.2016

Rui Sinel de Cordes é, de longe, um dos melhores humoristas que Portugal já viu. Dizer que ele manda "umas bojardas" fáceis para fazer rir qualquer um que aguente, é simplesmente ridiculo. Nunca ouvi um humorista ser tão verdadeiro no que diz. Tens de me dizer que humoristas mais agressivos é que gostas e segues. Se não apresentares uma resposta com nexo, simplesmente fica provado de que não percebes um centavo de humor.
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Fernando Caeiro a 17.06.2016

Como facilmente imaginarás, não estou especialmente preocupado com a opinião que tens sobre o que eu percebo ou não de humor.
Não vou ser avaliado por ti; por mim podes achar que tenho uma foto do Badaró pendurada no retrovisor - é-me completamente indiferente,
Mas agora fiquei com pena do RSC.
O tipo tem uma trabalheira desgraçada para escrever aquele texto a explicar que o humorista/RSC é uma espécie de personagem, que se mantém fiel a esse estilo, e que as suas piadas não representam de todo as suas opiniões pessoais.
E depois vens tu e escreves que nunca ouviste um humorista ser tão verdadeiro no que diz.
É azar, caramba.
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Paulo a 16.06.2016

Nem sei quem é o RSC. Mas achei muita piada a ver que este post tem 22 (com o meu, se for 'postado', 23) comentários e os outros param prái no 6....
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António R. a 16.06.2016

Aproveitando a ligação ao Charlie Hebbdo pergunto-me se não haverá um islamista radical dentro de cada um de nós, sempre disposto a decapitar quem ou o que nos desagrada. Até o anonimato com que os islamistas normalmente se apresentam é comparável com os perfis anonimos e cobardolas que despejaram ódio sobre o humorista no Facebook . Gosto do RSC não sendo no entanto um indefectível . Como aliás de quase tudo. Quando gosto vejo ao contrário desligo. Custa-me pois ver a crescente intolerância que mencionou . Pode-se dizer que as pessoas a coberto do anonimato da internet dão largas aos seus ódios mas creio que é mais do que isso e Orlando e até o assassinato da deputada britânica são bons exemplos de que a violência é para cada vez mais indivíduos uma forma de expressão legítima. O RSC não é e nunca será um humorista para as massas mas é-o para um nicho e como em todas as áreas da vida é essencial que exista nem que seja só para mudarmos de canal
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Fernando Caeiro a 17.06.2016

Eu esforço-me para que dentro de mim não exista nenhum radical islâmico, mesmo quando o primeiro instinto é afiar a faca.
Este post é aliás uma demonstração desse esforço.
Não gosto dele e acho que o seu trabalho enquanto humorista faz mais mal do que bem.
Mas não faz sentido ameaçar uma pessoa que faz piadas de que não gostamos, sobretudo num mundo onde há pessoas a fazerem coisas um nadinha mais graves do que dizer piadas de que não gostamos.
Subscrevo integralmente o que dizes; acho aliás que os nichos são fundamentais para a cultura e para a abertura da sociedade e das mentalidades.
Por acaso o nicho do RSC em concreto não, muito pelo contrário; mas os nichos em geral sim.
Sem biodiversidade isto era uma seca...
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zezinho a 17.06.2016

RUI AO PODER; só invejosos
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umacartaforadobaralho a 17.06.2016

Ele fez alguma publicação recentemente? Estive à procura, mas não consigo achar nada..
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Fernando Caeiro a 17.06.2016

A polémica mais recente tem a ver com um tweet a propósito do massacre de Orlando.
Depois disse que saía do Facebook e escreveu um (bom) texto no seu site.
É evidentemente a sua versão, mas diz muita coisa que faz sentido.
Por essa razão o citei e coloquei o link (na citação) para que se possa aceder facilmente ao texto integral.

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