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Não estou com vontade de tecer grandes comentários sobre as eleições americanas.
À parte do sentimento de tristeza, desalento e ressaca, acho que já estamos todos um bocado intoxicados com análises e lugares comuns, e muito do que eu poderia escrever já terá sido escrito por outros...
Parece-me contudo que Donald Trump e Hillary Clinton eram dois péssimos candidatos que acabaram por ser os maiores aliados um do outro.
Se Hillary Clinton inspirasse o mínimo de confiança aos seus cidadãos, um monstro como Donald Trump nunca ganharia. A candidata deu-se ao luxo de perder Estados tradicionalmente democratas, mesmo com um opositor tão extremado, o que demonstra bem que pouca gente confia nela. Representa o “sistema” com todas as suas perversões e opacidades, e ontem os cidadãos votaram contra isso (como já o fizeram recentemente noutras democracias).
Sem uma candidata tão má quanto Hillary Clinton, Trump dificilmente ganhava.
Mas sem Trump, Hillary não tinha andado à frente das sondagens este tempo todo e teria perdido com muito mais estrondo. Se tantos eleitores democratas recusaram votar em Hillary mesmo contra Trump, imagine-se a derrota humilhante que teria acontecido se os republicanos tivessem apresentado um candidato mais ao centro...
Até para nosso António Guterres esta é uma péssima notícia: os EUA são o maior doador das Nações Unidas, e um Presidente Americano isolacionista representa uma ONU ainda menos eficaz.
Adiante, o mal está feito.
No meio da tragédia, só encontro um ponto de consolo: talvez a primeira mulher a ser Presidente dos EUA venha a ser (daqui a uns anos) Michelle Obama.
Eu gostava muito de ver uma mulher na presidência, mas uma mulher que apresentasse algo de novo, uma visão diferente para o mundo; não apenas um político profissional, como Hillary Clinton, igual aos outros mas de saias.
No meio desta ressaca, e para além das consequências das opções políticas de Trump nos próximos anos, há algo que de facto me causa apreensão.
Há dois acontecimentos marcantes neste ano de 2016: o Brexit e a eleição de Donald Trump.
A vontade manifestada pelos Ingleses de saírem da União Europeia que ajudaram a construir, e a eleição de um candidato fascizóide nos EUA, mostra que este mundo já não é aquele dos equilíbrios do pós-guerra em que eu nasci, em 1970.
Até a derrotada Alemanha está a ganhar um peso e uma arrogância que há uns anos atrás não tinha - não manda panzers para invadir países, mas envia diretivas para os controlar e anuncia-o públicamente.
O nosso mundo já não é o do pós II Guerra Mundial – é uma coisa em convulsão.
Parece que o mundo está a viver um terramoto, e ontem abanou bastante.
Não sei se devemos tremer de medo, mas temos que perceber que o nosso mundo está a tremer...
P.S. Há uns dias o Ku Klux Klan declarou o seu apoio a Donald Trump e o seu staff apressou-se a repudiar esse apoio.
Mas alguém se lembrou do mote Yes We Klan, e eu não resisti a fazer o boneco...