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Joana_Vasconcelos-Bullying-2.jpg

O discurso do ódio faz-me sempre muita confusão.

E faz mais ainda quando é dirigido contra pessoas que, objectivamente, não interferem ou não prejudicam diretamente as nossas vidas – é o caso dos artistas.

Eu percebo que se deteste um político e se faça gala nisso porque ele mexe com as nossas opções e o nosso modo de vida. Em todo o mundo há quem deteste o Trump ou o Putin da mesma forma que há quem tenha detestado (ou ainda deteste) o Obama ou o Gorbachev.

Mas não percebo que se odeie um artista plástico ou um actor ou um músico cuja obra seria sempre tão fácil de ignorar, e deixar os sentimentos mais intensos e a indignação para combates que valham a pena.

Ainda por cima a sociedade costuma comportar-se em matilha – quando um ataca, surge logo uma turba de gente odiar e banquetear-se no fel.

Vem isto a propósito da mais recente onda de indignação contra a Joana Vasconcelos por causa da inauguração de uma obra sua no Santuário de Fátima.

É perfeitamente legítimo que não se goste da obra “Suspensão” e também é legítimo que não goste dela enquanto artista.

Mas algo completamente diferente é atacar uma pessoa por causa de uma característica pessoal (neste caso física) que nada tem a ver com a sua obra.

Pode não se gostar da obra da Joana Vasconcelos ou das opções políticas do António Costa ou das piadas do Eddie Murphy ou dos sketches do Monchique ou das trivelas do Quaresma ou dos quadros da Frida Kahlo.

Mas eles nunca poderão ser a gorda, o monhé, o preto, o paneleiro, o cigano ou a coxa com buço.

Isso não é ser crítico, é só ser uma besta, é só ser preconceituoso.

Não dá para achar indecente que o Trump tenha gozado com um jornalista deficiente e depois vir chamar publicamente gorda à Joana Vasconcelos.

Provavelmente as pessoas que enchem as redes sociais com ataques à “gorda” julgam-se incapazes de um ataque racista contra o Obama e nem chegam a perceber que estão no mesmíssimo patamar de incivilidade.

Aliás, muitos dos que se divertem a chamar gorda à Joana Vasconcelos ficariam provavelmente indignados se vissem um bando de miúdos a gozar com uma qualquer Joaninha Vasconcelos gorda de 8 ou 10 anos.

Acredito que muitos dos que se dedicam ao cyberbullying contra a Joana Vasconcelos ficam muito impressionados quando um caso de cyberbulling acaba mal e aparece nas notícias.

Julgar negativamente uma obra é um exercício de crítica mas atacar pessoalmente o artista é um exercício de violência gratuita.

É odiar a pessoa e não acrescentar nada.

É uma merda.

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publicado às 18:09


1 comentário

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Jorge Coimbra a 05.05.2017

A acrescentar no texto do "anónimo" que o artista não é um ente passivo que faz a sua obra e vai esconder-se do mundo. Muitos "vão à guerra" e podem oferecer algo para ter subsídios e prémios. Nada disto significa "apoiar o ciberbullying" mas desejo ressaltar que o artista tem, e é bom que tenha, iniciativas sociais. O problema está quando esta atividade ultrapassa as fronteiras da decência.

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