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Sobre as discussões recentes na Assembleia da República a propósito da criação de um feriado para o Carnaval, tenho a dizer o seguinte:

Nunca achei graça ao carnaval.

Não achava graça quando era miúdo e agora que tenho (4) filhos tolero-o apenas porque eles, não sendo especialmente adeptos, lhe acham alguma piada.

Gosto ainda menos dos carnavais institucionalizados, dos corsos e das sambistas enregeladas como se o nosso inverno fosse igual ao verão Brasileiro e a Bairrada fosse o Rio de Janeiro. Acho esses espetáculos particularmente tristes e poucas coisas me deprimem mais do que a imagem das matrafonas histéricas de Torres Vedras.

Mas isso é apenas a minha opinião pessoal.

Por essa razão, por não existir um especial conflito de interesses, sinto-me especialmente à vontade para escrever que acho que o Carnaval devia ser feriado.

Há duas razões a que sou especialmente sensível:

1 - Coincide com uma pausa nas actividades escolares e por isso é um momento possível de encontro da família (e todos sabemos como as famílias têm pouco tempo para se encontrarem nos dias de hoje).

2 - É importante para a economia regional de milhares de localidades que celebram e levam (muito) a sério essas festividades - algumas delas vivem quase o ano todo em função dos preparativos para essa festa.

Na prática o País pára por causa de feriados que não sabemos o que são nem o que significam e aos quais não se associa nenhuma celebração que justifique um dia sem trabalhar – faz todo o sentido que uma festa que envolve comunidades inteiras e muitas vezes obriga a fazer viagens seja motivo de feriado.

 

E não o digo por preguiça, só porque quero mais um feriado – de bom grado trocava dois feriados inúteis por este.

Acho que num País laico não fazem sentido os feriados religiosos, a menos que tenham sido adoptados pela comunidade.

É o caso evidente do Natal e da Páscoa.

Mas ninguém me consegue explicar porque é que um País tem que parar por causa da Imaculada Conceição, do Corpo de Deus ou da Assunção da Nossa Senhora. Se há pessoas que pela sua religiosidade especial querem celebrar essas datas e precisam de um dia inteiro, que o façam com os seus dias de férias – é o que todos fazemos com as nossas datas especiais.

Há pessoas que metem um dia de férias por causa do seu aniversário, do casamento de um amigo, etc. – é a coisa mais normal do mundo.

Aliás a comunidade católica deste País dá todos os anos vários exemplos particularmente reveladores de que não precisam do aval do Estado para manifestarem a sua religiosidade. Basta pensarmos nas centenas de milhares de pessoas que em Maio ou Outubro rumam a Fátima, durante vários dias ou só no dia 13, sem precisarem nem pedirem feriados para isso.

E é assim que deve ser; à priori o Estado não tem que se meter nos assuntos da fé.

 

Nós até temos poucos feriados.

Um País com 900 anos só celebra 3 ou 4 datas: o Dia da Liberdade que celebra o 25 de Abril de 1974, o 5 de Outubro (em que coincidem a assinatura do Tratado de Zamora em 1143 e a implantação da República em 1910) e o Dia da Restauração a 1 de Dezembro de 1640. São 3 feriados históricos para 900 anos de História.

É natural que algumas destas datas não tenham grande adesão popular. É normal que haja mais gente na rua a celebrar uma data histórica ocorrida em 1974 do que outra ocorrida em 1640. Mas faz todo o sentido que seja feriado a 1 de Dezembro pela carga histórica e simbólica da reconquista da independência.

 

Se o Carnaval não pode ser feriado porque isso afecta a nossa produtividade e o País não aguenta mais um feriado, então que se abdique dos feriados religiosos que são, objectivamente, vazios de conteúdo para a esmagadora maioria dos Portugueses.

Fazemos assim: vamos trabalhar no dia da Assunção da Nossa Senhora (desde logo porque um feriado a meio de Agosto é uma inutilidade) e no dia da Imaculada Conceição (Dezembro já tem outros feriados e não precisamos deste).

Em compensação passamos a ter o Feriado do Carnaval.

Parece-vos bem?

Então vamos votar.

Votos contra?

Nenhum?

A moção foi aprovada por unanimidade!

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publicado às 16:07



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