Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Por causa de um artigo recente sobre uma polémica envolvendo o filme O Último Tango em Paris, dei por mim à procura de notícias sobre o saxofonista Gato Barbieri.
Fiquei a saber que foi mais um dos que morreu neste ano tramado de 2016 sem que, aparentemente, tenha sequer chegado a ser notícia.
Tive o enorme privilégio de o ver ao vivo há 15 anos num concerto inesquecível no Tivoli, e deixo-vos com uma história deliciosa dessa atuação.
Para que lhe fiquem a conhecer o nervo e o (mau) feitio...
Nos intervalos das músicas ele gostava de contar umas histórias e, habituado que estava aos palcos do mundo, fazia-o em inglês.
Mas estando a tocar em Lisboa, alguém bem intencionado da plateia decidiu interrompê-lo para lhe dizer que podia falar espanhol. Sendo ele argentino, podia não saber que por cá nos desenrascamos todos mais-ou-menos com o castelhano.
Ele torceu o nariz, fez uma cara séria de quem não gosta de receber conselhos, e continuou a falar inglês.
No intervalo seguinte voltou a falar em inglês e a pessoa bem intencionada da plateia, julgando que ele não tinha percebido e pensando estar a ajudá-lo, voltou a dizer-lhe que podia falar espanhol porque nós compreendíamos.
À segunda o Gato Barbieri amuou, parou de falar, deu uns passos atrás e arrancou com mais uma música.
Minutos depois, a meio de um solo tremendo parou de tocar, dirigiu-se ao microfone, apontou para o seu saxofone dourado e perguntou em espanhol:
- Quieres que toque en otro idioma?
A plateia irrompeu numa loucura de gritos e aplausos – era o Gato na sua melhor forma!
Uns dias antes, quando estava comprar o meu bilhete, a senhora da bilheteira disse-me que lamentava mas já só tinha lugares na primeira fila - as pessoas não costumam gostar de ficar tão próximo - explicou-me.
Mal sabia ela que era mesmo na primeira fila que eu queria ver o Gato Barbieri.