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O meu amigo Zé Cavaco é do Benfica e gosta de futebol espetáculo.
Gosta de jogadores que arriscam, que fintam, que tentam sempre, daqueles que têm o toque de midas ou o golpe de génio que transforma o desporto em arte.
No longínquo ano de 2002, o Zé Cavaco andava doido com o Ricardo Quaresma que na altura tinha 19 ou 20 anos; naquele ano, o Quaresma era o jogador que lhe enchia as medidas, aquele que ele gostaria de ter no seu Benfica.
Chegou a confessar-me que até tinha inveja de nós, os lagartos, por termos um miúdo assim, daqueles que na tradição do Futre eram capazes de correr de uma baliza à outra tentando fintar metade da equipa adversária.
O que lhe interessava era a garra, a ingenuidade e a ousadia dos miúdos.
Um dia disse-me que gostava que o levasse a Alvalade – queria ver esse miúdo mágico em acção, a cores e ao vivo.
Eu acedi, arranjei um cartão para ele e lá fomos juntos à bola.
Pelo caminho expliquei-lhe:
Olha Zé, em Alvalade toda a gente adora o Quaresma; mas nós não vamos lá só para o ver. Nós agora temos um miúdo ainda mais novo que é uma absoluta maravilha.
Como só tem 17 anos, nem sempre é titular. Mas vais perceber que na 2ª parte vai começar a sentir-se um burburinho no campo e é o estádio a pedir ao treinador para meter o miúdo.
O meu amigo Zé não acreditou.
Não achou possível que o Sporting, para além do Quaresma que era o seu jogador preferido, ainda tivesse um miúdo mais novo e mais promissor.
Mas lá aconteceu o que sempre acontecia: a certa altura da 2ª parte toda a gente começou a pedir o miúdo, e o Cristiano Ronaldo lá entrou.
Não me lembro de qual era o jogo (porque eu ia a todos) nem qual o resultado; não me lembro sequer se o Ronaldo chegou a fazer alguma daquelas jogadas de encher o olho e levantar o estádio.
Lembro-me da alegria do estádio a pedir para o miúdo entrar e a alegria e entusiasmo com que ele jogava à bola - era magia.
Acho que o Zé Cavaco não percebeu na altura aquilo a que tinha assistido, mas talvez agora o compreenda.
O Cristiano Ronaldo cresceu e transformou-se naquilo que hoje todos conhecemos - o maior jogador Português de todos os tempos.
Já todos vimos jogadores espetaculares, basta ir à lista dos vencedores da Bola de Ouro para recordar os nomes daqueles que foram os melhores do seu tempo.
Parece-me contudo que o Cristiano Ronaldo está num patamar acima de todos eles. Não se trata de ser “apenas” aquele jogador extraordinário que carrega a equipa às costas – é aquele nível acima em que o futebol se transforma num híbrido ali entre o desporto colectivo e o desporto individual.
No “meu tempo”, quando penso no Ronaldo não penso no Platini ou no Rummenigge, no Van Basten ou no Ronaldo (brasileiro), não penso sequer no Messi.
Ronaldo não é apenas o melhor daquele ano, é dos melhores de sempre - o único jogador do “meu tempo” que me vem à cabeça quando penso no Ronaldo é o Maradona - para mim o mais extraordinário jogador de todos os tempos.
Muitos acharão que estou a exagerar e é natural.
Eu às vezes resvalo para a hipérbole - o amor tem destas coisas.
O Ronaldo está com 33 anos e ainda tem muito futuro para escrever, mas a sua garra e a sua genuína alegria a jogar à bola são as mesmas do miúdo de 17.
Ronaldo hoje lidera uma equipa, mas abraça e vibra com os seus colegas com o mesmo entusiasmo e gratidão de adolescente.
É também por isso que para mim será sempre “o meu menino de oiro”.