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Há uns anos atrás, uma miúda não terá sido vacinada contra o sarampo por causa de uma “reação alérgica grave” que teve na altura.

Já esta semana, a mesma miúda foi internada no Hospital de Cascais por causa de uma mononucleose - uma doença frequente (atinge 50% das crianças até 5 anos) e geralmente sem consequências.

Durante o internamento em Cascais terá estado próximo de um bebé de 13 meses que também não estava vacinado contra o sarampo por causa de um atraso devido a “razões clínicas”.

Aparentemente, e apesar das opiniões que os pais possam ter sobre o assunto, em nenhum destes casos a não-vacinação terá ocorrido por mero capricho dos pais.

A merda é que a desgraçada da miúda, agora com 17 anos, morreu hoje.

Apesar daquilo que li no Público (e que aqui resumi) alguns meios de comunicação social têm divulgado notícias onde os pais são acusados de negligência e de não ter vacinado a criança por mera opção familiar – um capricho, leia-se.

E depois disso, já se sabe, abriu-se a torneira do fel e escorre ódio e ácido pelas paredes da net.

 

A primeira questão que se me levanta é a da obrigatoriedade (ou não) da vacinação.

Como a vacinação não é obrigatória, não-vacinar as crianças não é crime.

E se o legislador achar que faz sentido tornar a vacinação obrigatória, pois que o faça para clarificar a situação – a mim parece-me perfeitamente aceitável obrigar as crianças a seguirem o plano nacional de vacinação.

Todas as crianças têm que frequentar a escolaridade obrigatória e na altura das inscrições é sempre pedido o boletim de vacinas – será muito fácil ao Estado impor e fiscalizar essa obrigatoriedade.

 

Mas se é necessário clarificar leis e comportamentos e sensibilizar as pessoas e as comunidades, quando se chega à morte de uma miúda de 17 anos tudo isso passa para segundo plano.

 

Aquilo que me enoja neste momento é o ódio que está a ser descarregado contra uns pais que estão a viver a maior tragédia das suas vidas.

Se a jovem falhou a vacinação por opção dos pais ou por razões médicas, de pouco me importa neste momento; haverá seguramente um momento em que se poderão discutir responsabilidades e os pais terão que viver o resto das suas vidas com o peso daquilo que lhes aconteceu.

 

Nós adoramos odiar o ódio dos outros.

Mas agora que fomos chamados a ter compaixão, preferimos jorrar ódio e descarregar culpa sobre os que estão em maior sofrimento.

Meio país diverte-se a destilar ódio contra uma mãe e um pai que acabaram de perder a sua filha.

É grotesco.

É apenas grotesco.

O ódio mata (muito mais) do que o sarampo...

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publicado às 14:35


18 comentários

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André a 19.04.2017

Já agora, culpe é os pais do bebé que o levaram ás urgências sem terem contactado a linha saúde 24... pois foi por ter existido um contacto entre o bebé e a jovem quando estavam a entrar para a triagem que ela acabou por falecer. Só na triagem é que foi descoberto que o bebé estava com sarampo (proveniente de um familiar que tinha estado em França e não tinha quaisquer sintomas até 2 dias depois do bebé ter dado entrada no hospital). Tanta publicidade e há sempre gente a criticar que se mete no automóvel e corre para as urgências sem usar formas tão simples que tinham livrado todos estes problemas.
Nessa altura foram tomados todos os cuidados... só que já era tarde. A rapariga ainda recebeu a vacina, tal como todas as pessoas que estavam presentes quando o bebé deu entrada naquela zona do hospital. Os danos que se agravaram com outras patologias é que lhe custaram a vida.

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