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Agora que a época festivaleira acabou, apetece-me partilhar uma história que aconteceu comigo e que ilustra bem como os festivais não são todos iguais.
Momento 1:
Em Fevereiro fiz uns contactos para ver se conseguia arranjar dormida em Paredes de Coura durante o festival, o que não é fácil.
Num turismo rural que já conheço disseram-me que não tinham vagas nessas datas, mas a irmã talvez pudesse ajudar caso aceitasse ceder quartos na sua casa particular.
Para tentar vender o meu peixe e convencer a senhora a ceder um quarto em sua casa, expliquei que somos um casal na casa dos 40, que não somos nenhuns miúdos bebedolas e barulhentos, e que connosco ficava mais descansada.
E a senhora disse-me que lhe era indiferente e deu-me a resposta típica dos Courenses: “a malta do festival é toda espetacular”.
Aparentemente nunca ninguém teve problemas com os visitantes, tenham eles 20, 30 ou 40 anos.
Momento 2:
Em Junho andei à procura de um sítio para passar uma semana de Agosto com a família na costa alentejana, e contactei um turismo rural em Odeceixe.
Disse-me o senhor que me atendeu que nem pensasse nisso, que até tinham quartos disponíveis, mas que não nos aconselhava de todo a ir com as crianças para aquela zona na semana do Sudoeste porque com o festival e os festivaleiros aquilo é insuportável.
Se num sítio não me aconselham a levar a família porque está perto de um festival, no outro dizem-me que ao festival só vem gente "espetacular".
Cada um vai para onde lhe apetece, consoante o ambiente e a música que por lá passa, e ainda bem que há eventos para todos os gostos.
Mas eu vou ficando fã de Paredes de Coura.
Ao contrário do Primavera Sound no Porto onde o público anda mais na casa dos 30 aos 50, em Peredes de Coura são quase todos miúdos (vê-se pelas caras deles, pelas t-shirts dos cursos, das semanas académicas, etc.)
Mas em Coura os miúdos não andam feitos parvos a gravar bocados de concertos no telemóvel infernizando a vida de quem está atrás deles.
Em Coura os miúdos não estão nas primeiras filas à conversa como quem está num bar, enervando quem está ali ao lado a querer ouvir o concerto.
Em Coura os miúdos cantam e tocam nas margens do rio durante o dia, e ensinam técnicas e canções a desconhecidos que lhes vão perguntar como é que se faz aquele acorde.
Em Coura os miúdos leem durante o dia, falam sobre livros e emprestam os jornais diários uns aos outros.
Em Coura os miúdos gostam de assistir a sessões de poesia e reagem com entusiasmo.
Em Coura os miúdos respeitam as miúdas e não se atropelam nas filas por causa de uma imperial.
Em Coura os miúdos bebem litros de cerveja à noite, mas também comem quilos de fruta durante o dia.
Na vila de Paredes de Coura as ruas enchem-se de esplanadas provisórias para satisfazerem o brutal aumento da procura, mas não há pré-pagamento porque os miúdos não fogem sem pagar.
Em Coura os miúdos respeitam-se uns aos outros e respeitam os artistas e a música que se está a ouvir.
Em Coura vejo bandos de miúdos e de miúdas a divertirem-se à sua maneira, e às vezes fico a pensar que gostava que os meus filhos também crescessem assim: livres, felizes e educados.
Os Courenses adoram o seu festival e os seus festivaleiros.
E eu também.