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De todas as polémicas palermas em que temos sido envolvidos, esta da lei que permite a entrada de animais em estabelecimentos comerciais é das mais parvas de todas.
Desde logo porque, enquanto lei, foi aprovada por unanimidade no Parlamento.
Sim, por unanimidade.
Eu não acho que a Assembleia da República “esgote” a sociedade civil. Mas quando uma lei é aprovada por unanimidade, talvez não estejamos propriamente perante uma “polémica”. Digo eu...
Só os estabelecimentos comerciais que quiserem é que vão permitir a entrada de animais, e só as pessoas que quiserem viver essa experiência é que lá vão entrar – mais simples e livre é impossível.
Perante isto, estar contra esta lei é tão estúpido como estar contra a existência de restaurantes japoneses com o argumento de que não se gosta de peixe cru, ou estar contra a abertura de restaurantes mexicanos e indianos porque o excesso de picante pode fazer mal.
Meus amigos: quem quer vai, quem não quer não vai.
O problema não está na lei nem nos animais nem nos donos nem no suposto politicamente correto.
O problema está numa sociedade civil sopeira que acha que deve opinar sobre a vida dos outros e o que fazem os outros; pior do que isso, uma sociedade civil que se sente no direito de interferir na vida dos outros, como se a vida dos outros interferisse na sua.
É um bocado como um heterossexual ser contra o casamento gay - como se isso mexesse na sua própria vida.
Nesta discussão, como em tantas outras, não há razão dos dois lados nem opiniões diferentes: há apenas as pessoas que percebem que têm liberdade para ir e não ir onde lhes apetece, e a malta com espírito de porteira quadrilheira que, por terem vidas mais poucochinhas e muito tempo livre, passam o tempo a ver e a opinar sobre a vida dos outros.
Deve ser chato estar a jantar e de repente ver o Bobby da mesa do lado a arrear um triplex castanho e pastoso. Mas quem não quiser correr esse risco, só tem que fazer o que sempre fez – ir aos restaurantes onde costuma ir onde não entram animais (é o que eu pessoalmente conto fazer).
Eu quero lá saber se há quem goste comida crua ou cozinhada, se há quem goste de carne ou prefira vegetariano, se gostam de ir jantar com a namorada ou com o Farrusco ou com ambos...
A vida dos outros interessa-me pouco; nisso sou muito pouco tuga, sou muito pouco sopeiro.
Ou como dizia o chavão do filme, get a life...
(nota do editor: este texto foi escrito por um tipo que adora animais, que tem uma cadela, e que não está a pensar de todo ir almoçar ou jantar fora com ela)