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<<<< fast rewind <<<<
Confesso que nunca fui grande fã de Bruno de Carvalho.
Lembro-me de ter ficado muito mal impressionado quando, aqui há uns anos, despediu o treinador Marco Silva.
Não pela troca em si (Marco Silva por Jorge Jesus) mas pela forma como foi feita. Como é evidente um presidente tem toda a legitimidade para dispensar e contratar treinadores – deve é fazê-lo com elevação e respeito. Despedir alguém alegando justa causa com o argumento de que se apresentou num jogo sem o fato oficial, faltou a uma reunião ou colocou em campo um jogador indesejado pelo presidente, demonstrava uns tiques de prepotência que me deixaram de sobreaviso.
Outro detalhe que me assustou foi a frase colocada na estátua do Leão aquando da inauguração do pavilhão João Rocha. Bruno de Carvalho fez questão de mandar gravar uma frase sua para colocar na base de pedra, do lado oposto à frase de um dos fundadores do clube.
Não faria mais sentido usar uma frase do João Rocha ou de um qualquer atleta notável das modalidades (do Carlos Lopes ao Livramento), em vez de uma frase do presidente que mandou fazer a estátua?
A História faz-se com tempo e se Bruno de Carvalho fizesse um trabalho notável como presidente seria natural que daqui a 30 anos alguém usasse o seu nome ou uma frase sua para engrandecer uma estrutura ligada ao clube.
Mas ser o próprio a colocar-se em bicos de pés e a outorgar-se o direito de escrever “hoje” uma frase qualquer para deixar à eternidade gravada na pedra revela um ego exacerbado e doentio que mais tarde ou mais cedo acabaria por causar problemas.
Sei que foi um detalhe, mas foi um detalhe muito revelador.
Quando em 2017 se realizaram eleições no Sporting votei no Pedro Madeira Rodrigues. Não porque me entusiasmasse muito a sua candidatura, mas porque enquanto cidadão sempre me assustaram as unanimidades. A verdade é que temi pelo que aconteceria se Bruno de Carvalho tivesse 90% e quis com o meu voto evitar a sua vitória esmagadora, o que acabou por acontecer. E infelizmente, com os resultados que se conhecem, os meus receios eram mais do que fundados.
O poder pode corromper (mesmo que seja apenas moralmente) e quando alguém se sente legitimado pela quase totalidade dos eleitores, corre-se o risco de o poder lhe subir à cabeça e confundir a sua pessoa com o cargo que ocupa, bem como minar os equilíbrios e a colegialidade na tomada de decisões – foi o que manifestamente aconteceu, e qualquer pessoa que vença umas eleições com 90% está mais próxima de se transformar num aprendiz de ditador.
<< rewind <<
Quando Bruno de Carvalho entrou em rota de colisão com o Sporting e com o mundo, não estranhei – o que estranhei foi o silêncio de todos aqueles que tinham obrigação de o contestar e de se apresentarem como alternativa.
Vi muitos analistas, ouvi muitos comentadores de bancada, assisti a muita indignação nas redes sociais, mas ninguém afrontou o poder instituído e destrutivo de Bruno de Carvalho.
E enquanto o Sporting exasperava e definhava e os potenciais opositores se resguardavam aguardando por melhores dias e timings que lhes fossem mais favoráveis, houve uma voz que se fez ouvir: não para se queixar ou para apenas criticar mas para se constituir como alternativa – foi a do Frederico Varandas.
Costuma dizer-se que só temos uma oportunidade para criar uma boa primeira impressão, e o Frederico Varandas conquistou o meu respeito e o meu afecto nesse primeiro momento.
O resto é a história que se conhece: um Bruno Carvalho empenhado em manter-se no poder a qualquer preço e indiferente aos interesses de Sporting, a demissão de boa parte dos corpos sociais, a invenção de novos órgãos por parte da direção que foram depois declarados ilegais pelos tribunais, a criação de órgãos transitórios por parte da MAG que foram aceites pelos tribunais, e finalmente a realização de uma Assembleia Geral onde Bruno de Carvalho foi destituído com 70% dos votos, tendo perdido em rigorosamente todas as mesas de voto (dos sócios mais recentes aos mais antigos).
Com a posterior apresentação do calendário eleitoral começam finalmente a aparecer os “outros” nomes de potenciais candidatos e com um cenário de 7 candidaturas há uma pergunta que fica sem resposta: o que leva tanta gente a querer concorrer?
Toda a gente considera o número excessivo e impeditivo de um verdadeiro debate sobre as alternativas, e toda a gente teme que o futuro presidente do Sporting possa ter a legitimidade beliscada por uma vitória na casa dos 30 ou 35% numa altura em que era importante um presidente com a legitimidade reforçada; mas ainda assim, 6 pessoas acharam que a sua candidatura era absolutamente imprescindível.
Será que depois de aparecerem os primeiros 2 ou 3 ou 4 candidatos, os demais têm projetos assim tão radicalmente diferentes que precisam de se apresentar de forma isolada?
Ou será que se apresentam com outros propósitos (negócios ou notoriedade) para além do interesse em servir o clube?
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Pela minha parte a decisão estava tomada desde o dia em que o Frederico Varandas se apresentou corajosamente como alternativa, quando todos os outros estavam confortavelmente a fazer contas à vida e quando nos fazia falta uma mensagem de esperança no cenário auto-destrutivo da presidência do Bruno de Carvalho.
Mas ainda faltava um detalhe para reforçar o meu entusiasmo nesta eleição.
Há uns dias recebi um telefonema de um querido amigo, quase de infância, que me perguntou se eu já tinha um candidato às eleições no Sporting. E quando soube em quem eu ia votar, disse-me que fazia parte da lista para a Mesa da Assembleia Geral da lista do Frederico Varandas e convidou-me para pertencer à sua Comissão de Honra.
E caramba, que honra!
Eu sempre fui desalinhado, sempre fui do contra. Se alguma vez fosse candidato ao que quer que fosse provavelmente recusaria o meu nome para a minha própria comissão de honra; no fundo sou um bocado como o Groucho Marx que dizia não aderir a clubes que o aceitassem como sócio.
Confesso que foi um convite inesperado que me encheu de orgulho e... honra.
Já me aconteceu, tanto no Sporting como na política, votar com pouca convicção, votar no do “contra”, votar para que o vencedor não ganhe por muitos, votar para dar voz à minoria... – acho que o fundamental é votar sempre porque a cidadania é o mais importante.
Mas desta vez vai ser diferente, desta vez vou votar porque acredito.
Depois de um período tão conturbado e com tantos desafios pela frente, precisamos de alguém que demonstrou ter a coragem no momento certo.
Neste momento, o que é mesmo importante é... UNIR O SPORTING!