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Quando soube que ia ser pai fiz imensos planos fantásticos que ficaram pelo caminho. Um deles era aprender a fazer surf - a ideia era aprender, apaixonar-me pela modalidade e depois ser eu o impulsionador da prática do surf pelos meus filhos.
Aquela junção entre prática desportiva e contacto com a natureza parecia-me uma coisa muito “boa onda”, no sentido literal do termo.
Como sou gajo tratei logo de comprar uma prancha, claro; felizmente arranjei uma em 2ª mão o que pelo menos reduziu drasticamente o custo do “passo em falso”.
Entretanto descobri que em vez de um filho eram gémeos, depois vieram mais 2 filhos e entre faltas de tempo, desculpas e dificuldades várias, a prancha ficou orgulhosamente dentro do saco e encostada à parede durante... 13 anos.
Até que este verão decidi tentar ter umas aulas de surf.
E como costumamos ir para a praia do Malhão, perto de Milfontes, achei que era uma excelente ideia tentar ter algumas aulas com eles.
Como imaginarão a coisa complicou-se e de que maneira...
Andei à procura nuns sites e percebi que o preço normal de uma alua de surf ronda os 25€, o que a multiplicar por 5 dava uma pequena fortuna por aula. Admito que o problema não seja o preço (que até inclui o aluguer de todo o equipamento) mas sim o meu orçamento limitado – de qualquer forma o sonho era impossível.
Encontrei escolas que faziam um desconto num pacote de 5 aulas por pessoa mas isso dava um conjunto de 25 aulas; contactei algumas a indagar sobre a possibilidade de um “desconto de grupo”, parceria com a página de FB e o blog mas não estava a ser fácil – e eu não podia pagar mais 500 ou 600€ por umas aulas de surf (para além do custo “normal” das férias).
Por fim encontrei quem precisava: a 7ª Essência – Escola de Surf e Bodybord, uma escola da zona de Lisboa (operam na Ericeira, Carcavelos e Caparica) mas que em Agosto desce até Milfontes.
Apresentaram de longe a melhor proposta e como eu não queria fazer disto uma coisa episódica (e como a escola é da zona de Lisboa) já sei com quem é que falo quando tiver a oportunidade/disponibilidade de fazer mais umas aulas.
A experiência foi maravilhosa e os miúdos aderiram antes mesmo de começar; mal lhes disse que iriam ter aulas de surf os olhos brilharam logo.
Na praia conhecemos o João, o mentor da escola, e mais tarde o Duarte e o Diogo que foram uns instrutores insuperáveis no carinho e dedicação aos alunos (para além do Francisco que nos tirou umas fotos).
O João é um líder e o Duarte e o Diogo têm (muito) mais jeito com miúdos do que eu.
É claro que ao fim de 5 aulas ainda se está a começar mas, pelo menos, já começámos a começar.
E é também evidente que as fotos e os vídeos não fazem justiça ao entusiasmo que se sente dentro de água.
Sucede que no mar sofremos de um problema de perspetiva que distorce tudo.
Quando estamos deitados na prancha temos a altura do nosso corpo na horizontal, e como temos a cabeça quase ao nível da superfície da água qualquer elevação nos parece desafiante.
Resumindo, quando estamos deitados na prancha, quaisquer 40cm de onda (ou de espumaço) nos parece quase imponente.
Remamos, esforçamo-nos por apanhar o ritmo, vemos aquela onda maior do que nós a aproximar-se (sim, nesse momento nós estamos deitados e por isso só temos 30cm de “altura”), e quando sentimos o empurrão da onda fazemos o movimento que nos ensinaram para nos pormos de pé.
Mordemo-nos para chegar à vertical, ajustamos a posição dos pés, esbracejamos para manter o equilíbrio, e se conseguimos surfar durante uns metros a sensação de “prova superada” é maravilhosa.
O ego só volta ao normal mais tarde quando vemos a foto (tirada quando já estávamos de pé) e constatamos que afinal aquela onda que, quando deitados, parecia ser do nosso tamanho, era afinal uma espuma que nos dava abaixo do joelho. É quase caricato o esforço que se faz para dominar uma espuminha de poucos centímetros mas é mesmo assim que se começa.
Tudo isto para vos dizer que nos divertimos muito mais do que aquilo que as fotos podem deixar entender.
Um dos prazeres maiores que tive nem teve a ver com a minha evolução. Adorei fazer esta iniciação ao surf, mas melhor do que ter sido feliz foi ter visto o esforço e a alegria dos miúdos.
Os nossos filhos são sempre uma versão melhorada de nós e nestas idades absorvem tudo num instante e progridem muito mais depressa do que nós (ok, o facto de serem mais ágeis e com um centro de gravidade mais baixo também ajuda).
Mesmo quando eu falhava uma abordagem ou quando caía cedo de mais e ficava com pena por não ter aproveitado aquela onda, bastava-me olhar à volta e vê-los a desfrutarem as suas ondas para me sentir completamente realizado.
Vê-los a surfar as suas ondas até ao fim, chegarem à areia e regressarem a correr lá para dentro sem pensar em mais nada foi uma parte importante do prazer do “meu” surf.
Resumindo, há três coisas que vos posso sugerir:
1 – Experimentem porque é maravilhoso; é um desporto que recomendo para todas as idades e lá em casa, dos 7 aos 48, toda a gente adorou.
2 – Aproveitem o inverno para terem umas lições de iniciação (com os fatos não se sente frio e está muito menos gente na água) e assim quando chegar o verão vocês e os vossos filhos já poderão ter alguma autonomia.
3 – Se forem da zona de Lisboa, da Ericeira à Caparica, a 7ª Essência é o parceiro/amigo de que precisam.