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Quando Joacine Katar Moreira disse que tinha ganho o lugar de deputada sozinha foi arrogante, quando alinhou numa lavagem de roupa suja do partido na praça pública foi incompetente, e quando justificou todos os problemas de comunicação apenas com as falhas dos outros foi irresponsável.
Para quem apenas agora chegou a estes palcos, não se pode dizer que a primeira impressão que deixou tenha sido boa.
Mas hoje Joacine Katar Moreira assumiu uma postura política assustadora.
Quando se pede uma escolta militar dentro do edifício do Parlamento para afastar os jornalistas de um deputado, seja ele qual for, cai a máscara e mostra-se a verdadeira face.
Se esta gente, ao fim de apenas um mês, já revela estes tiques de prepotência e de abuso de poder, imaginem o que seria esta gente a mandar.
Sendo apenas uma deputada, o caso pode parecer apenas ridículo.
Mas se esta Joacine, deputada há um mês, já se dá à arbitrariedade de mandar chamar a GNR para a “proteger” dos jornalistas, imaginem esta Joacine com poder.
Por estes dias a Joacine Katar Moreira consegue fazer com que o André Ventura pareça um menino do coro.
De uma coisa tenho a certeza: se o arrependimento matasse o Rui Tavares a estas horas estava a pedir orçamentos à Servilusa...
Quando o Paulo Portas ainda era “apenas” o Diretor do Independente, o meu tio Jorge que é comunista (acontece nas melhores famílias) dizia-me a brincar que o achava potencialmente perigoso. E justificava-se: para o meu tio Jorge o Paulo Portas era um homem muito inteligente, e para ele não havia nada mais “perigoso” do que um tipo que fosse simultaneamente de direita e muito inteligente.
E eu, que simpatizava com aquele Paulo Portas, retive esse misto de admiração e respeito que é saudável ter-se por aqueles que consideramos nossos adversários.
Essa recordação veio-me agora à memória a propósito do novo partido de André Ventura.
Não por causa de algum ponto em comum entre este Ventura e aquele Portas (que não existe) mas, pelo contrário, porque de André Ventura não se pode dizer que seja um homem “muito inteligente”.
O partido chama-se "Chega", e o nome é demasiado mau para ser verdade. "Chega" apresenta uma ideia de rutura, mas não mostra nenhum caminho alternativo; não soa bem, não tem dinâmica de vitória, não tem boa onda ou uma conotação com algo de positivo por que valha a pena lutar.
O nome "Chega" é, objetivamente, uma desgraça. “Chega” é apenas uma interjeição desesperada de quem está farto e não sabe o que há de fazer, como alguém que se esqueceu do guarda-chuva e apanhou uma molha, e ainda passou um carro a abrir e o deixou ensopado. Nesse sentido o partido também se poderia chamar "Parem Lá Com Isso", "Ai Que Chatice", ou "Poças Que Já Estou Irritado".
Também se podia chamar “Porra”, “Merda”, ou num partido mais extremista “Foda-se”.
Aliás, se eu tivesse que fazer campanha acho que preferia andar pela rua a apelar “vota Foda-se” do que a dizer “vota Chega”.
Na noite das eleições os jornalistas vão dizer que os votos do Chega não chegam para eleger um deputado? Ou pelo contrário vão dar a notícia de que o Chega chega ao parlamento?
Será que o André Ventura ainda não percebeu que em vez de um partido fundou uma anedota?
Adiante... deixemos o nome e vamos ver as suas propostas.
O primeiro cartaz conhecido é este:
Temos a pergunta “andamos a sustentar quem não quer fazer nada?” dentro de um elemento gráfico em forma de seta que aponta para um tipo de braços cruzados, vestido de forma desleixada com roupa que parece da feira e com a barba mal aparada – o retrato do arquétipo do preguiçoso despesista.
Ora acontece que o retratado, apesar de parecer um cigano em dia de casamento, é o próprio André Ventura que encomendou o cartaz. O grande líder conseguiu mandar fazer um cartaz com a sua foto de braços cruzados e uma seta a apontar e a alegar que ele próprio é um parasita da sociedade.
Não sei se lhe gabe o sentido de autocrítica, se aplauda a coerência de continuar no patamar da anedota.
O segundo cartaz/proposta que deram à estampa é este:
Aqui temos a afirmação de que “100 deputados chegam e sobram” por oposição aos 230 deputados que tem atualmente o nosso Parlamento.
Ora acontece que quanto menor for o número de deputados, mais votos vão ser necessários para eleger um deputado tornando a eleição de representantes de novos partidos quase impossível.
Não é preciso ser-se muito inteligente para compreender isto: o meu Zé que tem 9 anos percebe que se reduzirmos o número de deputados para metade vai ser preciso o dobro dos votos para eleger cada deputado – ele anda no 4º ano e já resolve problemas deste calibre, quando o André Ventura nem “chega” a perceber o enunciado.
Nem vou discutir se a medida é boa ou má; a questão é que se esta medida do Chega fosse aprovada, os principais prejudicados seriam os partidos mais pequenos e em especial os novos partidos que seriam banidos de qualquer possibilidade de eleição futura.
E o André Ventura nem percebeu que está a propor uma ideia que faria do seu partido um nado-morto.
Enquanto cidadão e eleitor, confesso que já me vai faltando a paciência para os partidos do sistema e os seus rebanhos de deputados mais ou menos invisíveis, ou que só são notícia quando são apanhados nalguma trafulhice a falsear moradas ou registos de presença.
Portugal precisa de ruturas, de caras novas e de ideias novas, mas convinha que fossem corporizadas por pessoas com um QI de pelo menos dois dígitos.
Bem sei que é positivo que em Portugal uma pessoa como o André Ventura possa fundar um partido - é um sinal de que somos um país que oferece algumas oportunidades às pessoas com deficiência.
Ainda assim, para mais políticos com a honestidade intelectual e a inteligência do André Ventura eu diria, numa palavra, CHEGA!