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O que mais impressiona na passagem do Bruno Fernandes pelo Sporting é a força da marca que deixou no clube, fazendo esquecer o pouco tempo que jogou de leão ao peito.
Com a sua saída para o Manchester United fizeram-se os balanços do costume e percebemos que o Bruno Fernandes apenas esteve no Sporting 2 anos e meio. E é isso impressiona.
O seu esforço, dedicação e devoção trazem-lhe a glória de ganhar um lugar no coração dos Sportinguistas como se lá tivesse jogado a vida toda.
Para os meus filhos, que têm entre 8 e 14 anos, o Bruno Fernandes é sinónimo de Sporting – será o jogador que marca as suas infâncias como a mim marcaram o Manuel Fernandes ou o Jordão.
Não é por acaso que há uns dias as minhas filhas me “explicaram” que vamos ter que comprar a camisola do Bruno Fernandes no Manchester United.
É que foram 2 anos e meio tão intensos que marcam as nossas vidas para sempre, e Bruno Fernandes passou a fazer parte da família.
É um extraordinário jogador com uma dedicação ao trabalho que farão dele um dos melhores da sua geração, mas enquanto homem demonstrou uma coragem, uma coerência e uma honestidade raríssimas.
Mais do que um talento dentro de campo, Bruno Fernandes é um homem para quem posso apontar como exemplo aos meus filhos.
Mais do que os kms percorridos, os desarmes, os passes, as assistências e os (muitos) golos marcados, é essa conjugação de talento e de integridade que fazem dele um ídolo.
E ser um ídolo só está ao alcance de alguns predestinados.
Bruno de Carvalho tem-se queixado de que está a ser alvo de uma perseguição inédita na história do planeta; diz ele que “o que me aconteceu nunca foi visto no mundo”.
E tem razão: qualquer pessoa que tenha acabado o liceu com aproveitamento dificilmente encontra na História Universal um episódio de perseguição mais gritante do que este.
E perante este cenário de injustiça, acho que chegou o momento de mostrarmos um pouco de solidariedade – pela minha parte é o que conto fazer.
Há cerca de um ano atrás Bruno de Carvalho afirmou peremptoriamente o seu desejo: "Hoje deixei de ser para sempre sócio e adepto deste clube".
E explicou-nos que ia escrever uma carta ao Sporting: “A minha carta de suspensão vitalícia de sócio segue segunda feira e nunca mais seguirei sequer os eventos desportivos do clube”.
Mas por alguma razão a carta perdeu-se e de pouco nos serve agora tentar apurar se a responsabilidade é dos CTT ou dos serviços administrativos do clube.
O que nos interessa é que no sábado há uma Assembleia Geral e podemos finalmente ajudar Bruno de Carvalho a realizar o seu sonho de deixar de ser sócio do Sporting.
Todos juntos vamos conseguir...
O meu tio Vinício, o meu tio favorito, era do Belenenses.
E durante anos tínhamos o ritual de ligar um ao outro quando jogávamos: se o Sporting ganhasse ligava eu e se o Belenenses ganhava ligava ele.
Como é natural nestas coisas dos miúdos a (minha) imaturidade era grande e parva. Eu ligava para gozar com o meu tio mas ele ligava para brincar comigo – sabia bem que havia coisas muito mais importantes do que a clubite...
Como ele era de Évora nunca chegámos a ir ver juntos um jogo entre o Belenenses e o Sporting - isso sim é coisa para se lamentar - e desde que ele morreu há mais de 20 anos que gosto de ganhar ao Belém mas sem alarido.
Se hoje o meu tio Vinício fosse vivo e o meu Sporting desse uma cabazada ao seu Belenenses, havia de me custar um pouco. E ligava-lhe para lamentar o mau jogo da sua equipa e lhe dizer que gosto muito dele.
Felizmente não foi o que aconteceu ontem - o Belenenses anda a espalhar charme pelas distritais, arrastando uma massa associativa exemplar e apostado em recuperar o orgulho, a mística e subindo degrau a degrau até regressar ao seu lugar junto dos grandes.
A equipa a quem o Sporting ontem ganhou 8-1 é apenas uma não-sei-quê SAD, uma empresa unipessoal, sem mística nem adeptos e que se podia chamar Rui Pedro SAD em homenagem ao umbigo do homem que criou aquilo.
Ontem eu não teria ligado ao meu tio Vinício pelo simples facto de que ontem o seu Belenenses não esteve naquele campo.
Talvez por isso, e salvaguardando o respeito pelos atletas, ontem até me soube bem ganhar 8-1 àquele híbrido do futebol português.
No passado dia 30 de Março aconteceu algo de histórico: o primeiro Sporting-Benfica em futebol feminino.
Muita gente deu conta do acontecimento porque o jogo, sendo solidário e tendo como objectivo recolher fundos para ajudar Moçambique, teve direito a uma boa promoção e a transmissão televisiva.
O resultado desta operação de promoção resultou num record de assistência: mais de 15.000 pessoas para assistirem a um jogo de futebol feminino.
Lá de casa fomos todos os 6, o preço dos bilhetes permitia-o, e nas bancadas o ambiente foi fantástico com famílias inteiras a viverem lado a lado a sua paixão pelo seu clube, sem receios nem animosidades.
E se é evidente que no desporto a este nível todos querem ganhar, tratava-se de um jogo amigável que era também uma enorme festa para o futebol feminino: aquelas atletas nunca tinham jogado num estádio com as bancadas tão compostas, com um ambiente de derby a sério e com direito a “directo” na TVI – era uma oportunidade rara para todas elas.
Mas é preciso dizer que os Clubes não tiveram a mesma visão de generosidade e de grandeza, e é com enorme orgulho que sinto que o meu Sporting ganhou em todos os capítulos: o desportivo e o moral.
Ao intervalo o Sporting fez 3 substituições tendo trocado de guarda-redes e saído a melhor jogadora da 1ª parte (Ana Borges). A meio da 2ª parte o Sporting fez mais 4 substituições de uma assentada permitindo que todas as jogadoras do banco vivessem aquele dia tão especial para a modalidade à qual dedicam as suas vidas.
O Sporting tinha feito 7 substituições e o Benfica nenhuma (acabou depois por fazer uma substituição já depois do penalti e mais duas no minuto '90).
O Sporting quis fazer do jogo uma festa do futebol feminino e oferecer um dia especial às suas jogadoras enquanto o Benfica quis ganhar de qualquer maneira mesmo que isso significasse privar as suas atletas da experiência de pisar aquele palco.
Todos sabemos que quando se fazem muitas substituições a equipa arrisca-se a ficar menos coesa, mais desligada entre si, mas também por termos assumido correr esse risco (em benefício da festa e das nossas jogadoras) soube ainda melhor ganhar o jogo.
O Sporting foi generoso e ganhou, o Benfica foi egoista e perdeu.
Fiz questão de explicar esse “pequeno” detalhe aos meus filhos.
No fim do jogo as taças entregues a cada equipa tinham o mesmo tamanho e nem sequer foi anunciado um “vencedor”: o apresentador limitou-se a anunciar a entrega do troféu ao Benfica e depois ao Sporting sem referencias ao resultado final, e a fotografia para a posteridade tem as jogadoras misturadas num ambiente de são convívio.
Para resumir diria que foi uma tarde especialmente bonita porque os 3 grandes de Lisboa se uniram por uma causa solidária (o Belenenses ofereceu o estádio) o futebol feminino deu mais um passo rumo à sua afirmação como desporto de massas e os meus filhos puderam assistir a um Sporting-Benfica num ambiente de rivalidade saudável e amistosa.
E no fim o Sporting ganhou tanto no desporto como na ética.
Que grande lição para os meus filhos...
Um pouco por todo o mundo, temos assistido à chegada ao poder de pessoas que ganharam fama pela sua atitude populista, agressiva, pela truculência, animosidade e pela violência da sua linguagem.
Dos Estados Unidos às Filipinas, do Brasil à Turquia, exemplos não faltam nesta “onda” que parece imparável.
E se Portugal tem passado ao lado desta vaga de crescimento da violência e da intolerância no discurso politico, no futebol tivemos no passado recente um exemplo flagrante de alguém que usava a ofensa, o confronto e a violência como forma de se expressar pessoal e institucionalmente.
Bruno de Carvalho promoveu a sua “normalização da violência” contra tudo e contra todos, e acabou o seu mandato num registo de pura ofensa pessoal.
Aos seus opositores Bruno de Carvalho chamou publicamente de ratos, tarados, carentes de sexo, vermes, porcos, ressabiados, toxicodependentes, nojentos, rastejantes, pedófilos, alcoólicos, e mais um rol de ataques pessoais e ofensas nunca vistos naquilo a que chamamos “espaço público”.
E apesar de muitos associados reconhecerem mérito à sua gestão (basta lembrar os 86% com que foi eleito, o pavilhão que construiu e os títulos que ajudou a conquistar em várias modalidades), chegou um momento em que a massa associativa do Sporting achou que o clima de agressividade e violência que se vivia se tinha tornado insuportável.
E aí, perdoem-me a imodéstia, o Sporting deu uma lição de civismo ao mundo: numa altura em que assistimos a uma onda de populismo e a um recrudescimento do discurso violento e intolerante, os sportinguistas promoveram o seu primeiro processo de destituição de um presidente, destituído precisamente por reunir essas características tão em voga.
Em dois momentos distintos a massa associativa do Sporting recusou de forma clara essa postura: quando mais de 70% dos votos sentenciaram a destituição do presidente Bruno de Carvalho, e meses mais tarde quando bateram o record de participação numas eleições para a nova direcção do clube quando o ex-presidente apelou ao boicote.
No plano do civismo, do culto da democracia e do respeito pelos outros, o Sporting foi absolutamente exemplar e os seus sócios portaram-se como verdadeiros campeões.
Só nos falta um último desafio para podermos arrumar definitivamente a figura de Bruno de Carvalho no album do passado: devemos participar na AG do próximo sábado e votar favoravelmente as medidas propostas pelo Conselho de Disciplina.
É importante que façam um desvio no vosso sábado e passem pelo Pavilhão João Rocha para votar e cumprir mais uma vez o nosso dever cívico.
Se não participarmos, arriscamo-nos a que “outros” decidam por nós e já sabemos como isso pode acabar mal. Ainda na última AG os acólitos do antigo presidente quase conseguiam boicotar a aprovação do orçamento para este ano o que representaria um dano tremendo para a estabilidade do Sporting. São pessoas que não hesitariam em prejudicar o clube se conseguissem maximizar a sua voz minoritária numa AG pouco participada.
Não é só por causa do que aconteceu em Alcochete nem pelas suspeitas de gestão danosa que têm sido noticiadas (como aqui ou aqui).
É porque aquele discurso de confronto permanente, de animosidade, de criação de inimigos e de apelo à intolerância não é aceitável no mundo que queremos construir, seja no futebol ou na política.
Vamos virar definitivamente esta página da nossa história.
Vamos fazer desaparecer este pesadelo para que depois possamos começar a construir o nosso sonho.
Temos no ar uma nova polémica: a presença de magistrados nos órgãos sociais do Sporting está a causar perplexidade a algumas pessoas.
E a mim, confesso, causa-me perplexidade a perplexidade deles, nomeadamente depois das entrevistas de Manuel Ramos Soares, presidente da Associação Sindical dos Juízes e de Ricardo Costa, Diretor do Expresso.
Com declarações um bocado confusas e algo manipuladoras, dão a entender que estes magistrados fazem parte da Direção do Sporting (e não fazem) ou que vão lidar com a gestão do futebol (e não vão).
Os órgãos para os quais foram eleitos são de jurisdição interna do clube: a Mesa da Assembleia Geral e o Conselho Fiscal e Disciplinar. O primeiro é o órgão que convoca e gere as Assembleias Gerais do Clube, e o segundo é o órgão que fiscaliza as contas e o Conselho Diretivo, e aplica medidas disciplinares aos sócios..
Eu até poderia perceber que existissem reservas se algum magistrado tivesse sido nomeado para cargos executivos ou de representação institucional do clube – mas não é manifestamente o caso.
Aliás, a maior parte das pessoas só sabe que estes quatro cidadãos são magistrados porque alguém decidiu fazer disso “notícia”.
Quantos de vós sabem por exemplo, sem ir ao Google, como se chama o vice-presidente da Mesa da Assembleia Geral do FC Porto e qual a sua profissão?
Pois...
A mim tanto se me dá que o vice-presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar do Porto ou do Farense seja desembargador ou advogado, ou que o secretário da Mesa da Assembleia Geral do Benfica ou do Belenenses seja procurador ou notário – são órgãos jurisdicionais internos dos clubes cuja ação se limita à esfera interna de cada instituição.
Da mesma forma que não me incomoda nada que um magistrado participe nos órgãos sociais de outras associações como corpos de bombeiros, ranchos folclóricos, cooperativas de agricultores ou outros se for essa a sua vontade.
O presidente do sindicato dos juízes está contra esta participação por achar que ela pode beliscar a imagem que os cidadãos têm da justiça.
Mas se querem que vos diga, eu acho que a imagem da justiça fica muito mais prejudicada por exemplo quando um juiz desembargador afirma num acórdão que numa violação “a ilicitude [praticada] não é elevada”. A sério, acho muito mais grave o facto de existirem magistrados que acham que a violação não é um crime grave.
E sim, é a mesma pessoa: o presidente do sindicato dos juízes que acha preocupante um magistrado participar nos órgãos sociais de um clube é o mesmo magistrado que acha que 2 tipos violarem uma mulher na casa de banho de uma discoteca é de uma ilicitude mediana.
Ele lá terá as suas prioridades mas por mim estamos conversados...
Quanto a Ricardo Costa, usa como argumento a existência de investigações judiciais e o emblemático caso e-toupeira.
Isto é, para explicar que seria imprudente envolver magistrados na vida interna de um clube, Ricardo Costa usa como exemplo um caso onde não está envolvido nenhum magistrado e que demonstra precisamente que ninguém precisa de magistrados para aceder a informação judicial privilegiada e usá-la indevidamente em benefício de um clubes ou de qualquer outra organização.
Ricardo Costa quis apoiar-se na realidade para defender a sua tese, a realidade é que não estava para aí virada...
Mas Ricardo Costa afirma que estes 4 magistrados participam “ativamente na atividade do ponto de vista de uma direção” e isso é falso; são apenas membros de órgãos sociais que se relacionam exclusivamente com os restantes órgãos internos do clube e que aplicam apenas os regulamentos internos do clube.
Acho por exemplo que a credibilidade da justiça ficou mais abalada com a substituição pouco transparente da Procuradora Geral da República. E acho curioso que o Ricardo Costa que tem uma opinião tão forte e veemente e com tantas certezas absolutas quanto à participação dos magistrados nos órgãos sociais dos clubes consiga não ter opinião formada sobre a mudança da PGR, tirando umas evidências sobre o perigo de politização do cargo, daquelas que até o Donald Trump ou a Lili Caneças subscreveriam.
Para Ricardo Costa o que é mesmo preocupante é a possibilidade da acta da reunião da Assembleia Geral da Académica ser escrita por um sócio da briosa que é magistrado lá em Coimbra.
Ui, isso é que mina a confiança dos cidadãos na justiça...
Mas lá está, cada um tem as suas prioridades.
Resumindo, a mim não me incomoda que os magistrados participem em órgãos sociais internos de clubes ou associações, e acredito que já vários clubes os tenham tido nos seus órgãos sem que daí tenha vindo nenhuma suspeita ou descredibilização da justiça ou da função dos magistrados.
Todos os males da justiça fossem esses...
Podemos passar à próxima polémica?
<<<< fast rewind <<<<
Confesso que nunca fui grande fã de Bruno de Carvalho.
Lembro-me de ter ficado muito mal impressionado quando, aqui há uns anos, despediu o treinador Marco Silva.
Não pela troca em si (Marco Silva por Jorge Jesus) mas pela forma como foi feita. Como é evidente um presidente tem toda a legitimidade para dispensar e contratar treinadores – deve é fazê-lo com elevação e respeito. Despedir alguém alegando justa causa com o argumento de que se apresentou num jogo sem o fato oficial, faltou a uma reunião ou colocou em campo um jogador indesejado pelo presidente, demonstrava uns tiques de prepotência que me deixaram de sobreaviso.
Outro detalhe que me assustou foi a frase colocada na estátua do Leão aquando da inauguração do pavilhão João Rocha. Bruno de Carvalho fez questão de mandar gravar uma frase sua para colocar na base de pedra, do lado oposto à frase de um dos fundadores do clube.
Não faria mais sentido usar uma frase do João Rocha ou de um qualquer atleta notável das modalidades (do Carlos Lopes ao Livramento), em vez de uma frase do presidente que mandou fazer a estátua?
A História faz-se com tempo e se Bruno de Carvalho fizesse um trabalho notável como presidente seria natural que daqui a 30 anos alguém usasse o seu nome ou uma frase sua para engrandecer uma estrutura ligada ao clube.
Mas ser o próprio a colocar-se em bicos de pés e a outorgar-se o direito de escrever “hoje” uma frase qualquer para deixar à eternidade gravada na pedra revela um ego exacerbado e doentio que mais tarde ou mais cedo acabaria por causar problemas.
Sei que foi um detalhe, mas foi um detalhe muito revelador.
Quando em 2017 se realizaram eleições no Sporting votei no Pedro Madeira Rodrigues. Não porque me entusiasmasse muito a sua candidatura, mas porque enquanto cidadão sempre me assustaram as unanimidades. A verdade é que temi pelo que aconteceria se Bruno de Carvalho tivesse 90% e quis com o meu voto evitar a sua vitória esmagadora, o que acabou por acontecer. E infelizmente, com os resultados que se conhecem, os meus receios eram mais do que fundados.
O poder pode corromper (mesmo que seja apenas moralmente) e quando alguém se sente legitimado pela quase totalidade dos eleitores, corre-se o risco de o poder lhe subir à cabeça e confundir a sua pessoa com o cargo que ocupa, bem como minar os equilíbrios e a colegialidade na tomada de decisões – foi o que manifestamente aconteceu, e qualquer pessoa que vença umas eleições com 90% está mais próxima de se transformar num aprendiz de ditador.
<< rewind <<
Quando Bruno de Carvalho entrou em rota de colisão com o Sporting e com o mundo, não estranhei – o que estranhei foi o silêncio de todos aqueles que tinham obrigação de o contestar e de se apresentarem como alternativa.
Vi muitos analistas, ouvi muitos comentadores de bancada, assisti a muita indignação nas redes sociais, mas ninguém afrontou o poder instituído e destrutivo de Bruno de Carvalho.
E enquanto o Sporting exasperava e definhava e os potenciais opositores se resguardavam aguardando por melhores dias e timings que lhes fossem mais favoráveis, houve uma voz que se fez ouvir: não para se queixar ou para apenas criticar mas para se constituir como alternativa – foi a do Frederico Varandas.
Costuma dizer-se que só temos uma oportunidade para criar uma boa primeira impressão, e o Frederico Varandas conquistou o meu respeito e o meu afecto nesse primeiro momento.
O resto é a história que se conhece: um Bruno Carvalho empenhado em manter-se no poder a qualquer preço e indiferente aos interesses de Sporting, a demissão de boa parte dos corpos sociais, a invenção de novos órgãos por parte da direção que foram depois declarados ilegais pelos tribunais, a criação de órgãos transitórios por parte da MAG que foram aceites pelos tribunais, e finalmente a realização de uma Assembleia Geral onde Bruno de Carvalho foi destituído com 70% dos votos, tendo perdido em rigorosamente todas as mesas de voto (dos sócios mais recentes aos mais antigos).
Com a posterior apresentação do calendário eleitoral começam finalmente a aparecer os “outros” nomes de potenciais candidatos e com um cenário de 7 candidaturas há uma pergunta que fica sem resposta: o que leva tanta gente a querer concorrer?
Toda a gente considera o número excessivo e impeditivo de um verdadeiro debate sobre as alternativas, e toda a gente teme que o futuro presidente do Sporting possa ter a legitimidade beliscada por uma vitória na casa dos 30 ou 35% numa altura em que era importante um presidente com a legitimidade reforçada; mas ainda assim, 6 pessoas acharam que a sua candidatura era absolutamente imprescindível.
Será que depois de aparecerem os primeiros 2 ou 3 ou 4 candidatos, os demais têm projetos assim tão radicalmente diferentes que precisam de se apresentar de forma isolada?
Ou será que se apresentam com outros propósitos (negócios ou notoriedade) para além do interesse em servir o clube?
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Pela minha parte a decisão estava tomada desde o dia em que o Frederico Varandas se apresentou corajosamente como alternativa, quando todos os outros estavam confortavelmente a fazer contas à vida e quando nos fazia falta uma mensagem de esperança no cenário auto-destrutivo da presidência do Bruno de Carvalho.
Mas ainda faltava um detalhe para reforçar o meu entusiasmo nesta eleição.
Há uns dias recebi um telefonema de um querido amigo, quase de infância, que me perguntou se eu já tinha um candidato às eleições no Sporting. E quando soube em quem eu ia votar, disse-me que fazia parte da lista para a Mesa da Assembleia Geral da lista do Frederico Varandas e convidou-me para pertencer à sua Comissão de Honra.
E caramba, que honra!
Eu sempre fui desalinhado, sempre fui do contra. Se alguma vez fosse candidato ao que quer que fosse provavelmente recusaria o meu nome para a minha própria comissão de honra; no fundo sou um bocado como o Groucho Marx que dizia não aderir a clubes que o aceitassem como sócio.
Confesso que foi um convite inesperado que me encheu de orgulho e... honra.
Já me aconteceu, tanto no Sporting como na política, votar com pouca convicção, votar no do “contra”, votar para que o vencedor não ganhe por muitos, votar para dar voz à minoria... – acho que o fundamental é votar sempre porque a cidadania é o mais importante.
Mas desta vez vai ser diferente, desta vez vou votar porque acredito.
Depois de um período tão conturbado e com tantos desafios pela frente, precisamos de alguém que demonstrou ter a coragem no momento certo.
Neste momento, o que é mesmo importante é... UNIR O SPORTING!
Estava eu de férias quando no meu feed do FB me apareceu publicidade à candidatura de Dias Ferreira com esta foto e a legenda:
“A equipa de recolha de assinaturas já está pronta!”
E eu, que nem sou um histérico contra a chamada “objectificação” da mulher, torci o nariz.
Acho que a guerra contra a utilização da imagem das mulheres está a atingir patamares de irracionalidade absurda e o caso da FIFA, que não quer que as câmaras de TV captem imagens de mulheres bonitas nos estádios, é apenas o caso mais recente e patético.
Mas a verdade é que o tempo em que na publicidade se queria vender tudo, desde o carro ao detergente, recorrendo apenas a um decote bem recheado já lá vai; numa sociedade moderna já não se comunica apenas com um bom par de pernas ou de mamas.
Reduzir a mulher à sua imagem é, em 2018, constrangedor e confrangedor.
Será que na equipa de Dias Ferreira não havia voluntários e voluntárias com vontade de recolher umas assinaturas e de explicar aos seus interlocutores o programa do candidato?
Era preciso recorrer ao expediente simplista e vulgar de... “contratamos umas miúdas giras e os gajos assinam”?
Será que têm uma visão tão limitada e redutora dos seus próprios adeptos?
Acho até que os sócios do Sporting mereciam ser tratados de outra forma.
Qualquer pessoa, independentemente do sexo e desde que devidamente formada, seria capaz de tentar convencer um associado a assinar a candidatura de Dias Ferreira (ou de qualquer outro).
É o que fazem por exemplo, com todos os seus defeitos, os partidos políticos.
Será que esta “equipa de recolha de assinaturas” é apoiante de Dias Ferreira, lhe conhece o programa e o consegue explicar resumidamente aos potenciais votantes?
Posso estar enganado mas parece-me que Dias Ferreira preferiu reduzir os sócios à condição de grunhos e a mulher a um mero objecto.
E eu não gosto viver num mundo onde as mulheres são encaradas com esta ligeireza, e não quero que as minhas filhas vivam num mundo assim.
Nem as filhas ou as netas de Dias Ferreira merecem isto.
Mais valia que tivesse escolhido a hashtag #diasferreira1988
É que esta imagem, de século XXI, parece ter pouco.
No passado evitei escrever sobre Bruno de Carvalho porque o assunto me provocava angustia e desgaste emocional, porque o tema era escalpelizado ad nauseam em todo o lado, e porque tudo o que o ex-presidente do Sporting dizia ou escrevia era desmentido pelo próprio ou pela realidade nas 24h seguintes.
Mas depois das reações do próprio à última assembleia geral que votou a sua destituição apeteceu-me fazer o exercício de, humildemente, analisar a sua mais recente argumentação.
Peguei no seu último post no facebook (este) e como não foi alterado ou editado, ao contrário dos outros, usei-o como ponto de partida para a tarefa.
Aqui ficam os meus comentários a alguns dos pontos que o agora ex-presidente do Sporting apresenta em sua defesa.
"Tenho de começar logo com um primeiro agradecimento especial aos quase 30% que votaram na nossa não destituição. Nem vale mais discutir se foram mais ou não."
Não foram mais, de facto foram menos; mais precisamente 28,64%.
O curioso é que quando o ex-presidente teve votações com resultados favoráveis assumiu-os sempre como exatos e fidedignos.
"Sempre quis ser um Líder popular, com os pés assentes na terra, com um discurso mobilizador que voltasse a devolver o orgulho."
Não se pode devolver o orgulho a quem nunca o perdeu; se há coisa que a massa associativa do Sporting sempre teve, mesmo durante as mais inclementes travessias do deserto, foi orgulho no seu Sporting – qualquer sportinguista sabe e sente isso.
“Um discurso ambicioso, virado para dentro e para fora, demostrando ao Mundo que estávamos aqui para vencer tudo e exigir de volta o que tínhamos perdido: Respeito.”
Se houve coisa que o Sporting e os sportinguistas não ganharam foi “respeito”.
O ex-presidente passou boa parte do seu tempo a tratar quase toda a gente como inimigos e fê-lo de forma inaceitável.
De cada vez que se dirigia a alguém (fossem adversários externos ou sportinguistas) como “ratos”, vermes” ou “nojentos”, o Sporting não ganhou respeito – pelo contrário, os sportinguistas foram ganhando vergonha pela postura do seu presidente.
“Isto abriu uma guerra geracional que não era de todo o pretendido.”
É falso, não existe nenhuma guerra geracional.
Numa das mais concorridas Assembleias Gerais da história do Sporting o “SIM” à destituição ganhou em TODAS as mesas.
Mesmo na mesa onde votaram os sócios mais recentes que se inscreveram já durante a presidência de Bruno de Carvalho, o “Sim” à destituição teve 54,6%.
Por outro lado, é impossível associar de forma clara a antiguidade dos sócios a um factor geracional: há pessoas com 50 anos de idade que são sócias há 5 anos e há pessoas com 30 anos de idade que são sócias há 30 anos.
A única certeza que temos é que o Sim à destituição de Bruno de Carvalho foi absolutamente unânime entre todas as gerações de sócios.
“Mas o discurso levou a que muitos Sportinguistas se afastassem, mesmo não percebendo o porquê...”
Penso que os Sportinguistas se afastaram precisamente porque percebem porquê.
Mesmo neste post em que se pretende apresentar como um ex-presidente fofinho, humilde e conciliador, acaba por menorizar mais uma vez de forma ostensiva os sportinguistas afirmando que eles só se afastaram do líder porque não perceberam.
Pelo menos aqui regista-se uma exceção à regra e o ex-presidente apresenta uma rara coerência neste hábito de menosprezar as capacidades dos associados do Sporting: ele tem que falar devagarinho para que o possamos entender, quem votou sim à destituição é fraco de espírito, e agora os que se afastaram é porque não percebem.
Bruno de Carvalho tem mudado de opinião todos os dias sobre quase todos os assuntos, mas quanto a ofender os sócios do Sporting tem sido coerente - reconheça-se isso.
“Afinal, o conteúdo era aparentemente 100% correcto”
Aparentemente é falso; aparentemente os Sportinguistas não consideram o discurso do seu ex-presidente “aparentemente 100% correcto” – se o achassem não tinham votado massivamente na sua destituição.
Basta recordar o tenebroso episódio do ataque a Alcochete em que o ex-presidente afirmou que os jogadores eram involuntariamente responsáveis pelo ataque – para muitos Sportinguistas o conteúdo estava 100% incorreto.
Este espírito de culpabilização da vítima é o mesmo que diz que uma mulher violada é culpada pela sua violação porque estava de saias ou tinha bebido umas cervejas – é o patamar da náusea e do abjecto.
“O Clube chegou ao sucesso e a minha imagem pessoal ficou totalmente deturpada ao olhos de muitos.”
Não vou discutir a afirmação de que o Sporting chegou ao “sucesso” porque esse é um conceito subjetivo. Mas a imagem pessoal do ex-presidente não ficou nada deturpada; pelo contrário ficou amplamente demonstrada de forma clara e transparente.
Alguém que passou os últimos anos a envolver-se publicamente em discussões com adversários internos e externos com um discurso à base do “verme”, “idiota”, “labrego”, “traidor”, “reles”, “porco”, “nojento” ou “cretino”, não tem a sua imagem pessoal deturpada – tem uma imagem pessoal que corresponde exatamente à realidade.
“Vamos ter a humildade de receber de braços abertos todos os que queiram apresentar o seu projecto para o Sporting CP.”
A ver se entendo... durante anos os adversários eram ratos, nojentos, porcos e traidores. E agora, só porque pende um processo disciplinar sobre o ex-presidente, vamos acolher todos de braços abertos?
Alguém mal intencionado ainda pode pensar que esta postura é algo hipócrita para quem apregoa que a frontalidade é uma das suas maiores virtudes.
“O meu desejo é simples, que se acabe com este processo disciplinar”
O meu desejo é precisamente o oposto. Quem ataca os atletas do Sporting publicamente como depois do jogo com o Atlético de Madrid, quem acusa os atletas do Sporting de serem co-responsáveis pelas agressões de que a nossa Academia foi vítima, quem passou os últimos anos a atacar e a ofender os sportinguistas e quem ainda há poucos dias escreveu que os 71% que votaram pela sua destituição são “tristes e fracos de espírito” (sic), deve ser expulso do clube.
Não faz sentido que uma associação, seja um partido, uma empresa ou um clube, tenha como associado alguém que se tornou tóxico e prejudicial, e que regularmente demonstra o seu desprezo pelo clube e seus associados.
Se um empregado passar a vida a falar mal da empresa e dos colegas acabará despedido; se um filiado passar a vida a falar mal do partido e dos adversários acabará expulso; se um sócio ou dirigente passar a vida a falar mal do clube e dos associados acontece-lhe o mesmo. É assim em todo o lado.
“Somos um país livre e democrático e por isso deixemos a liberdade de candidatura e voto aos sportinguistas.”
Reina por aqui alguma confusão. Portugal é de facto um país livre e democrático mas existem leis e regras a cumprir para assegurar essa liberdade.
Portugal é um País livre e democrático mas nem todos se podem apresentar a eleições e nem todos podem votar.
Por outro lado as instituições podem ter regras próprias desde que sejam compatíveis com as leis da República: basta lembrar que em Portugal vigora o princípio de “uma pessoa um voto” e nas associações as pessoas podem ter mais do que um voto em função da sua antiguidade.
E mesmo ao nível da República há organizações que pela sua ideologia estão proibidas de concorrerem a eleições.
Por outras palavras, existe democracia e liberdade mas também há limitações ao seu exercício – tanto na República Portuguesa como no Sporting.
Para terminar esta lista que já vai longa, fica uma afirmação do próprio Bruno de Carvalho depois da Assembleia Geral:
"Hoje deixei de ser para sempre sócio e adepto deste clube"
Como dizem nos filmes, I rest my case...
O meu amigo Zé Cavaco é do Benfica e gosta de futebol espetáculo.
Gosta de jogadores que arriscam, que fintam, que tentam sempre, daqueles que têm o toque de midas ou o golpe de génio que transforma o desporto em arte.
No longínquo ano de 2002, o Zé Cavaco andava doido com o Ricardo Quaresma que na altura tinha 19 ou 20 anos; naquele ano, o Quaresma era o jogador que lhe enchia as medidas, aquele que ele gostaria de ter no seu Benfica.
Chegou a confessar-me que até tinha inveja de nós, os lagartos, por termos um miúdo assim, daqueles que na tradição do Futre eram capazes de correr de uma baliza à outra tentando fintar metade da equipa adversária.
O que lhe interessava era a garra, a ingenuidade e a ousadia dos miúdos.
Um dia disse-me que gostava que o levasse a Alvalade – queria ver esse miúdo mágico em acção, a cores e ao vivo.
Eu acedi, arranjei um cartão para ele e lá fomos juntos à bola.
Pelo caminho expliquei-lhe:
Olha Zé, em Alvalade toda a gente adora o Quaresma; mas nós não vamos lá só para o ver. Nós agora temos um miúdo ainda mais novo que é uma absoluta maravilha.
Como só tem 17 anos, nem sempre é titular. Mas vais perceber que na 2ª parte vai começar a sentir-se um burburinho no campo e é o estádio a pedir ao treinador para meter o miúdo.
O meu amigo Zé não acreditou.
Não achou possível que o Sporting, para além do Quaresma que era o seu jogador preferido, ainda tivesse um miúdo mais novo e mais promissor.
Mas lá aconteceu o que sempre acontecia: a certa altura da 2ª parte toda a gente começou a pedir o miúdo, e o Cristiano Ronaldo lá entrou.
Não me lembro de qual era o jogo (porque eu ia a todos) nem qual o resultado; não me lembro sequer se o Ronaldo chegou a fazer alguma daquelas jogadas de encher o olho e levantar o estádio.
Lembro-me da alegria do estádio a pedir para o miúdo entrar e a alegria e entusiasmo com que ele jogava à bola - era magia.
Acho que o Zé Cavaco não percebeu na altura aquilo a que tinha assistido, mas talvez agora o compreenda.
O Cristiano Ronaldo cresceu e transformou-se naquilo que hoje todos conhecemos - o maior jogador Português de todos os tempos.
Já todos vimos jogadores espetaculares, basta ir à lista dos vencedores da Bola de Ouro para recordar os nomes daqueles que foram os melhores do seu tempo.
Parece-me contudo que o Cristiano Ronaldo está num patamar acima de todos eles. Não se trata de ser “apenas” aquele jogador extraordinário que carrega a equipa às costas – é aquele nível acima em que o futebol se transforma num híbrido ali entre o desporto colectivo e o desporto individual.
No “meu tempo”, quando penso no Ronaldo não penso no Platini ou no Rummenigge, no Van Basten ou no Ronaldo (brasileiro), não penso sequer no Messi.
Ronaldo não é apenas o melhor daquele ano, é dos melhores de sempre - o único jogador do “meu tempo” que me vem à cabeça quando penso no Ronaldo é o Maradona - para mim o mais extraordinário jogador de todos os tempos.
Muitos acharão que estou a exagerar e é natural.
Eu às vezes resvalo para a hipérbole - o amor tem destas coisas.
O Ronaldo está com 33 anos e ainda tem muito futuro para escrever, mas a sua garra e a sua genuína alegria a jogar à bola são as mesmas do miúdo de 17.
Ronaldo hoje lidera uma equipa, mas abraça e vibra com os seus colegas com o mesmo entusiasmo e gratidão de adolescente.
É também por isso que para mim será sempre “o meu menino de oiro”.