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É evidente que nada me move contra o progresso e as novas tecnologias – era o que faltava.
Já não tenho é paciência para esta parolice lusa de venerar tudo o que vem de fora como se fosse o último grito da moda - aquela novidade que nos vai salvar.
Sim, andam por aí umas pessoas que estão a participar num grande evento, é verdade.
Mas se o evento nos entra pelas casas adentro não é só pela sua dimensão, relevância ou pelo que traz de novo à cidade – é pelo empolamento provinciano das notícias.
Ai, os hotéis estão cheios!
A sério?
Só quem nunca tentou marcar um hotel é que não sabe que é frequente ser difícil encontrar um quarto disponível na cidade.
Já me aconteceu várias vezes só conseguir um quarto (sim, um só quarto) à quinta ou sexta tentativa porque o Marriott estava cheio, o Corinthia estava cheio, e nos hotéis de 4/5 estrelas perto do eixo Aeroporto/Expo não havia um único quarto disponível.
Lisboa recebe diariamente milhares de turistas e dezenas de eventos e congressos que tornaram a oferta hoteleira insuficiente há muito tempo. Qualquer passeio por Lisboa revela uma quantidade de novos hotéis (para além do fenómeno dos alojamentos locais) que nascem como cogumelos.
É preciso ter passado os últimos 5 anos a dormir para não perceber isso.
Ai os transportes estavam cheios.
A sério?
É que nem me vou dar ao trabalho de comentar...
Ai, o Bairro Alto e o Cais do Sodré foram invadidos à noite!
A sério?
Agora a sério... A SÉRIO?
Mas há alguém neste quintal à beira mar plantado que não saiba que o Bairro Alto e o Cais do Sodré estão SEMPRE cheios de gente durante os 52 fins-de-semana do ano?
Qual é a próxima extraordinária novidade que estes media trendy nos vão dar?
Que por causa da Web Summit este ano até houve verão de São Martinho?
Que durante a Web Summit a semana começou a uma segunda?
Vocês desculpem a minha aparente falta de entusiasmo mas não sei se o meu coração aguenta tanta inovação.
Fico feliz pelo facto de a organização ter escolhido a minha amada cidade.
Espero que os participantes tenham gostado de cá estar e que tenham ficado com vontade de cá investir e de cá voltar.
Mas nós estamos em 2016 – enquanto comunidade já tínhamos a obrigação de receber as pessoas e os eventos com normalidade e não como uns pacóvios fascinados porque vêm aí umas coisas lá de fora.
Já não há “lá fora”, pá.
Agora passa-se tudo cá dentro.
Parecendo que não, o termo “aldeia global” foi criado há meio século...
No fim perguntei-lhe se o papel tinha mais letras ou mais números e lá percebi que o teste tinha sido de Português.
Mas não foi fácil sacar-lhe a informação :-)
Como tenho a sorte de morar numa rua onde não passam carros, não ouvi uma única buzinadela.
E como só ouço a Radar, consigo (de facto) passar ao lado da intoxicação.
Mas vá... parabéns...
(Hoje só vou ligar a televisão para ver a minha Khaleesi)