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Ora então sejam muito bem-vindos à última polémica parva.
Vamos aos factos:
1 – o Valter Hugo Mãe escreveu um livro;
2 – o Ministério da Educação incluiu esse livro no Plano Nacional de Leitura do 3º ciclo;
3 – uns pais não gostaram devido ao conteúdo de 2 ou 3 parágrafos e protestaram;
4 – o Ministério reconheceu que tinha sido um erro informático e que afinal o que pretendiam era recomendar o livro para o PNL do liceu e não para o 3º ciclo.
Fixe, ficou assim tudo resolvido.
Mas acabou a polémica?
Ehhhh... não.
Parece que algumas pessoas querem brincar à indignação durante mais uns dias e para isso fingem-se muito maçadas pelo facto de alguns pais terem protestado com a inclusão do livro no Plano Nacional de Leitura do 3º ciclo.
Como se os pais não tivessem legitimidade para opinar sobre a educação que é dada nas escolas aos seus próprios filhos, sobretudo quando têm 12 ou 13 anos.
Um dos argumentos mais fofos (chamemos-lhe assim) vai buscar a recordação das suas leituras da adolescência, do Christiane F aos Trópicos do Henry Miller, passando pelas piadinhas sobre as páginas coladas da Gina...
O argumento é: como esses papás não ficaram traumatizados com essas leituras precoces (mal seria...), alega-se que não há necessidade de adequar conteúdos à idade e à maturidade das crianças.
Como se nas restantes disciplinas da escola não se enquadrasse a complexidade das matérias em função da idade dos alunos.
E depois, como é evidente, cola-se um rótulo de conservador ou falso moralista a todos os pais que acham que cada criança tem a sua maturidade e que deve ler o que for mais ajustado à sua idade, pelo menos quando tem o selo de “conselho” do Plano Nacional de Leitura.
Como é evidente os miúdos vão sempre ler coisas às escondidas.
Pela minha parte até conto comprar daqui a uns tempos um livro da Anais Nin e deixá-lo “esquecido” numa mesa qualquer para que as minhas filhas o possam ler, naturalmente às escondidas.
É claro que é uma absoluta aberração pretender avaliar uma obra a partir de dois parágrafos completamente descontextualizados.
É claro que a personagem que diz aquelas frases foi alvo de uma construção física e psicológica ao longo do romance, e que quando o leitor lá chega já sabe que aquela personagem é uma besta.
Ainda assim, estou convencido de que quando o Valter Hugo Mãe escreveu “E a tua tia sabes de que tem cara, de puta, uma mulher tão porca que fode com todos os homens e mesmo que tenha racha para foder deixa que lhe ponha a pila no cu.” provavelmente não pensou: – É pá que fixe, isto está mesmo bom para ser lido por miúdos de 12 ou 13 anos.
Aliás, se há pessoa que seguramente dispensava esta polémica é justamente o autor que escreveu livremente a sua obra e que não merece ser usado como estandarte de ninguém porque se acha muito libertário (e muito menos ser condenado por ninguém que se julgue moralista).
Esta polémica até consegue ser mais parva do que o normal porque estalou já depois de ter sido resolvida.
Em bom rigor, este meu texto nem devia ter sido escrito.
Mas olhem, como já está, publique-se...