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Fomos ver a exposição “Tutankamon – Tesouros do Egito” que desde Janeiro está no Pavilhão de Portugal em Lisboa.
É certo que valeu a pena – eu gostei e os meus filhos adoraram.
Mas ainda assim não consigo deixar de pensar em algumas coisas que vi e que me incomodam.
Muito.
Já não tenho pachorra para os supostos “bilhetes de família” que na prática não o são. A verdade é que a minha família não podia entrar na exposição com o tal “bilhete de família”.
Se eu tivesse ido à exposição com 3 filhos de amigos meus (que não são família) podia entrar com o tal “bilhete família”; mas com os meus filhos não posso – são 4, já não dá.
Mesmo assim a existência do bilhete família vale a pena? Sim, é melhor do que nada.
A soma de 6 bilhetes avulsos custaria 54€ e com um “bilhete família” mais um bilhete individual para a 4ª filha pagámos 38€ - para este escalão de preços, 16€ é um bom desconto.
Mas esmagadora maioria das famílias tem 1 ou 2 filhos; não é seguramente a minha quarta filha que vai causar prejuízo ao organizador do evento.
(Nota: a próxima exposição que queremos muito ver é a “Cosmos Discovery” e nessa o “bilhete família” é realmente válido para toda a família. Uma família são os pais e os seus filhos – ponto!)
Já que estamos a falar de dinheiro, acho natural que quem paga exija ter acesso a uma exposição bem montada, iluminada e contextualizada.
Os objetos em si eram bons – boas réplicas com toda a imponência para deixarem miúdos e graúdos de queixo caído.
E a forma como estava organizada era interessante porque partia da reprodução das várias ante câmaras para a sua decomposição por peças; permitia partir do quadro geral para o particular e um bom relacionamento com a localização original de cada uma das peças.
Mas o espólio foi (muito) maltratado pelo organizador.
A exposição começa com a exibição de um filme velho que, pela legendagem, parece ter sido feito há mais de 50 anos. O filme em si acrescenta valor e foi bom vê-lo; mas será que nestas últimas décadas não se fez mais nada ou não se podia apresentar material mais recente e apelativo?
Qualquer documentário normalíssimo, daqueles que passam no Canal História ou no National Geographic, é incomparavelmente melhor.
Uma exposição desta dimensão merecia que aquele filme fosse misturado com conteúdos mais modernos, a cores, com gráficos, reproduções 3D, e todas as ferramentas que se usam atualmente neste tipo de eventos.
Durante a exposição viam-se muitas peças sem nenhuma legenda ou contexto (aliás, para nos habituarmos desde o início, a exposição começa precisamente com umas fotos e uma estátua sem nenhuma placa indicativa).
Muitos dos placards eram de difícil leitura e faziam reflexo com a iluminação o que obrigava os visitantes a mudar de ângulo várias vezes para ler 4 ou 5 linhas de texto.
Chegámos a encontrar uma placa com um erro ortográfico e algumas das traduções do Inglês para Português pareciam ter sido feitas por uma criança de 10 anos (ou então pelo tradutor do Google) com erros na construção das frases.
Mau, muito mau.
E mesmo nas peças que estavam identificadas faltava muitas vezes a explicação da sua utilidade – faltava contexto.
Até as minhas filhas de 11 anos se queixavam da falta de informação.
Não sei se é absoluto amadorismo, se é mesmo falta de brio e de vontade, se é só especulação com a magia do Antigo Egipto.
Se calhar pensaram que o mundo dos Faraós já é tão apelativo que bastava chegar lá, montar a exposição sem cuidados especiais, espalhar peças em vitrines, passar um vídeo qualquer, fazer uma boa promoção nos media e já está.
Eles pagam e não se queixam.
Se calhar o promotor apostou no triste provérbio “para quem é, bacalhau basta”.
E se calhar saiu-se bem – talvez a exposição tenha sido um êxito de bilheteira e ele tenha ganho bom dinheiro com o evento (espero sinceramente que sim).
Mas muitas vezes não é por se fazerem as coisas bem feitas que isso custa mais dinheiro.
A civilização egípcia, os arqueólogos que fizeram aquelas descobertas e o público de Lisboa mereciam mais.